quinta-feira, 24 de julho de 2014

Catequese de adultos: Evangelização, primeiro anúncio e catequese (I)

O anúncio do Evangelho suscita a conversão, a catequese educa o amor descoberto.
Por José Barbosa de Miranda
BRASíLIA, 18 de Julho de 2014 (Zenit.org) - No artigo anterior: Construindo Caminhos Catequéticos, vimos que o percurso passa de uma verdade aprendida para uma verdade experimentada, apropriada, verificada na experiência e que se torna convicção pessoal. Neste, veremos a necessidade primeira da evangelização. Pe. José Gevaer, salesiano, professor emérito da Universidade Pontifícia Salesiana de Roma, escritor, conferencista e pesquisador, publicou na REVISTA DA CATEQUESE, número 106, abril/junho de 2004, o artigo:Evangelização, primeiro anúncio e catequese, discorrendo sobre a necessidade de primeiro evangelizar, depois catequizar. Ele aprofunda essa exigência em razão da cristandade. Não há ambiente para depositar a semente da educação da fé sem antes passar pelo Evangelho. Se primeiro não houver uma adesão a Jesus Cristo: “vem e segue-me” (Lc 18,22), tornando-se seu seguidor, será difícil acolher a doutrina cristã. Se antes não se conhecer e acolher a pregação de Jesus, será difícil formar uma geração de cristãos. Educação e serviço não se sobrepõem, mas se completam. Catequese supõe evangelização.
Retomar a experiência catecumenal
Hoje praticamos uma catequese que foi pensada e estruturada para uma sociedade cristã que já não existe. Vivemos o imediatismo cristão sem o tempo de amadurecimento. Para os dias hodiernos, a proposta primária deve ser a de despertar o desejo do Evangelho para, depois, chegar à maturação cristã. A catequese, por sua vez, já não atinge o jovem, a criança, os adultos, pois a experiência evangélica não faz parte da família. Primeiro conhecer Jesus (Jo 1,39), depois, professar a fé no Filho de Deus (Jo, 6,68).
É necessário que se retome o impulso missionário da Igreja para que haja comprometimento. Esses fatos são destaques em Ad Gentes(Vaticano II), Evangilli Nuntiandi (Paulo VI, 1975), Redemptoris Missio (João Paulo II, 1990), entre outros.  O RICA, em sua introdução, no número 9, insiste que a iniciação requer a evangelização: “É o tempo da evangelização em que, com firmeza e confiança, se anuncia o Deus vivo e Jesus Cristo, enviado para salvação de todos...”.

Formar uma nova mentalidade missionária
O termo “missão” perdeu seu sentido como anúncio do Evangelho. Foi trocado por “imediatismo”, é o que vemos, junto às comunidades cristãs, com cunho catequese. Persiste-se na instrução, animação, formação em vários sentidos, mais voltados para a vida social de uma ou várias comunidades, com fins sacramentais.
Missão tem um cunho específico ligado à salvação que Deus dá em Jesus Cristo, que o dá aos discípulos: “Como o Pai me enviou, eu também vos envio.” (Jo 20, 21). “Proclamai o Evangelho a todas as criaturas” (Mc 16, 15), “Fazei que todas as nações se tornem discípulos”. (Mt 28, 19). Trata-se de levar as pessoas ao encontro com o Cristo. O anúncio do Evangelho é prioridade para todos os cristãos. Todos são chamados e enviados para testemunhar a grande obra de Deus em Jesus Cristo.
A Igreja chama para evangelizar, fazendo da missão a sua obra primeira. Antes de se formar catequistas, é preciso formar uma consciência missionária, pois há muitos que não conhecem Jesus Cristo. Antes de se pensar no conteúdo didático da catequese, deve-se, primeiro, mudar a mentalidade em direção do anúncio da Boa Nova. Antes de ser catequista é necessário ser missionário e com uma sólida formação bíblica.
A lógica da primeira evangelização e do primeiro anúncio
Há pessoas que têm uma caminhada na experiência missionária, recolocando a lógica pastoral em seu real contexto, priorizando o anúncio evangélico como pressuposto catequético, pré-requisito para a formação de catequistas e agentes pastorais. Mas constata-se uma “crise na iniciação cristã”. Os processos e conteúdos não produzem os resultados esperados. A comprovação é notada pela grande evasão de pessoas que, recebidos os sacramentos de iniciação cristã, não aderem Jesus Cristo.
A chave para se compreender esse processo é que a catequese é pensada para uma sociedade cristianizada, e hoje vivemos o contrário, uma cristandade onde a família já não conhece o Evangelho, e, por conseguinte, Jesus Cristo.
Essa catequese está focada para uma sociedade cristã em que:
a família era uma escola de vida cristã, a primeira evangelizadora;o ambiente de uma cultura cristã era vivenciada, os que vinham à catequese já eram evangelizados;a escola respeitava a cultura e a fé cristã e garantia uma catequese eclesial, preparando jovens e crianças para os sacramentos;havia um contato vivencial com outras pessoas, onde os jovens praticavam a fé, com um catecumenato juvenil em diversas associações e movimentos paroquiais;havia um contexto onde se discutiam e aprendiam os diversos acontecimentos, como vida, sofrimento, morte, dentro da realidade evangélica.
Esse ambiente já não existe. Desapareceu pelo compressor relativista e neutralizador, pelo pluralismo religioso e ideológico. Com isso encontramos adultos, jovens, crianças, que não conhecem Jesus Cristo, portanto, não estão abertos à catequese. Ainda não têm a experiência evangélica para acolher a fé.
Desse quadro emerge um duplo problema que precisa ser aprofundado:
a necessidade de priorizar a evangelização, como primeiro anúncio, de uma forma explícita e consciente;a urgência de se adequar a metodologia catequética, oferecendo uma formação cristã nos caminhos de Jesus Cristo, pelo seu anúncio, para contrapor o contexto pluralista ao impulso missionário.
Para que isso se torne realidade é necessário admitir que o processo atual já não satisfaz à formação cristã, que a catequese já não é tão renovada, que os métodos não são suficientes. Semeia-se em terreno não preparado pelo Evangelho.
Urge um contexto missionário com atitudes missionárias. Repensar a catequética atual. Viver um contexto missionário inculturado, entrar generosamente na concepção missionária da primeira evangelização:
testemunho pessoal e comunitário de fé e de amor cristão;ser uma presença caritativa na comunidade e no meio social;tornar-se amigos dos interlocutores;ter um diálogo aberto e acolhedor, respeitando as diferenças.
É preciso atingir as pessoas onde elas se encontram numa dimensão evangélica. O episódio do funcionário etíope (At 8,26-40) se apresenta como uma ação missionária para todos: animadores, interlocutor, catequistas.
O evangelizador é um acompanhante que alcança as pessoas em suas angústias e decepções, interessando-se por elas e seus problemas, suas frustrações. Não fica só na primeira parte do encontro, mas caminha com o discípulo, interessar-se pelos seus questionamentos e experiências. Assume a proposta e vida de Jesus: anúncio do Reino, cruz, morte e ressurreição (Mc 8,31). Para se atingir o objetivo missionário é necessário estar junto e participar da vida pelo diálogo amoroso, ser presença para que a diaconia pedagógica torne-se a ação libertadora.

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