quinta-feira, 1 de março de 2018

Os Franciscos e seus abraços em quem ninguém queria abraçar



Foto: Ansa / Claudio Peri; Pintura: Creative Commons

Aleteia Brasil | Out 04, 2017

Francisco de Assis, o Papa Francisco e uma mesma imagem que assombra o mundo
Uma imagem correu mundo em forma de arrepios em novembro de 2013 e se tornou um resumo visível do pontificado de Francisco. Embora não precisasse, a imagem ganhou uma legenda magistral quando Vinicio Riva, o homem desfigurado pela neurofibromatose a quem o Papa havia abraçado, deu um depoimento que equivale à mesma cena, mas em forma de palavras certeiras:
“O Papa não teve medo de me abraçar. Enquanto ele me acariciava, eu só sentia o seu amor!”

São Francisco de Assis também abraçava aqueles a quem ninguém queria abraçar. E não era um gesto que lhe brotasse naturalmente: para ele, era um gesto de decisão, um ato de superação e de vencimento de si mesmo por amor a Deus e por amor aos filhos de Deus. Ele também sentia uma repulsa natural pelos leprosos de quem todos queriam distância – mas o amor precisava ter mais força que a repulsa.
Domínio Público

A respeito do amor de decisão vivido por Francisco de Assis, contamos com o seguinte testemunho legado por São Boaventura a todas as gerações:
“Certo dia em que passeava a cavalo na planície que fica perto de Assis, Francisco cruzou-se inesperadamente com um leproso. Teve um sentimento de horror intenso, mas, lembrando-se da resolução de vida perfeita que tomara, e de que devia, antes de mais, vencer-se a si mesmo se queria ser «soldado de Cristo» (2Tim 2,3), saltou do cavalo para abraçar o infeliz. Este, que estendia a mão pedindo uma esmola, recebeu um beijo com o dinheiro. Em seguida, Francisco voltou a montar o cavalo. Mas, por muito que olhasse para um lado e para o outro, não viu o leproso. Cheio de admiração e de alegria, pôs-se a cantar louvores ao Senhor e prometeu não se deter neste ato de generosidade.
Abandonou-se então ao espírito de pobreza, ao gosto da humildade e aos impulsos de uma piedade profunda. Se até então a simples visão de um leproso o fazia estremecer de horror, passou a fazer-lhes todos os favores possíveis, com perfeita despreocupação por si mesmo, sempre humilde e muito humano; fazia-o por causa de Cristo crucificado, que, nas palavras do profeta, «foi desprezado como um leproso» (Is 53,3). Ia visitá-los com frequência, dava-lhes esmolas e, emocionado de compaixão, beijava-lhes afetuosamente as mãos e o rosto. E aos mendigos, não se contentando em lhes dar o que tinha, quereria dar-se a si mesmo – de maneira que, quando não levava dinheiro consigo, dava-lhes as suas vestes, descosendo-as ou rasgando-as para as distribuir.
Foi por esta altura que realizou a peregrinação ao túmulo do apóstolo Pedro, em Roma. Quando viu os mendigos que fervilhavam no chão da Basílica, levado pela compaixão e atraído pelo amor da pobreza, escolheu um dos mais miseráveis, propôs-lhe trocar as suas vestes pelos farrapos com que o homem se cobria e passou todo o dia na companhia dos pobres, com a alma cheia de uma alegria que nunca, até então, conhecera”.
São Boaventura, em Vida de S. Francisco, Legenda Major, 1, 5-6

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