sábado, 10 de março de 2018

Comentário ao Evangelho

Meditatio 
A parábola que o evangelho hoje nos apresenta é um verdadeiro dom de Deus, particularmente no tempo da Quaresma que estamos a viver. Com efeito, pode assaltar-nos a tentação de pensarmos que, com as práticas penitenciais que nos propusemos, e vamos praticando, somos melhores que os outros. Ceder a esta tentação, seria arruinar todo o bem que, com a graça do Senhor (é bom sempre lembrá-lo!), temos praticado.
«Quero a misericórdia e não os sacrifícios, o conhecimento de Deus mais que os haocsastos», diz-nos o Senhor pela boca de Oseias. Conhecer a Deus, e conhecer­nos a nós mesmos em Deus, é o caminho da sabedoria e da vida. Foi o caminho que os santos de todos os tempos percorreram: «Que Te conheça, que eu me conheça», pedia Santo Agostinho. Quem somos nós, sem Deus? Somos certamente pecadores, cheios de orgulho e cheios de desprezo pelos outros; somos prisioneiros do nosso egoísmo e do nosso pecado. Quem somos nós com Deus? Somos ainda pecadores, mas pecadores que sabem que a experiência de pecado pode tornar-se o lugar em que Deus, o Misericordioso, nos revela o seu rosto.
Um excelente exercício para a nossa Quaresma consistirá em unir-nos à misericórdia de Deus, revelada em Jesus Cristo, que aceitou ser contado entre os pecadores, que carregou sobre Si as culpas de todos, e aceitou morrer para nossa salvação. Por isso, não só não se separou dos pecadores, mas aceitou conviver com eles, para a todos revelar o amor misericordioso do Pai. Cada cristão há-de continuar a ser sinal desse amor misericordioso junto dos irmãos, particularmente daqueles que nos parecem maiores pecadores. Tudo o mais que fizermos, jejuns, orações, esmolas, ou outras penitências, deve ser oferecido pelos nossos próprios pecados. Se nos julgamos mais perto de Deus, devemos prová-lo a nós mesmos com uma proximidade maior junto dos outros, uma proximidade permeada de misericórdia e de amor fraterno, de amor oblativo.
Jesus aproxima-Se das pessoas com muita compreensão, com doçura e humildade. Ama as pessoas, como nos demonstra também na parábola do pai bom e do filho pródigo. As palavras do pai não são um sermão, não avançam queixas e muito menos acusações. Não é um debate e, muito menos, uma polémica. À humilde confissão do filho: "Pai, pequei contra o céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filhd’ (Lc 15, 21), o pai responde beijando-o e abraçando-o; apenas fala com o seu amor: "Depressa, trazei o vestido mais belo e vesti-lho, ponde-lhe o anel no dedo e sandálias nos pés. Trazei o vitelo gordo, matai-o, comamo-lo e façamos festa … " (Lc 15, 22-23).
É este o modo como também havemos de actuar com os nossos irmãos, mesmo com aqueles de quem tenhamos alguma queixa.
Oratio
Senhor, ajuda-me a libertar-me das máscaras com que tento esconder a pobreza do meu ser, a mesquinhez do meu coração, a dureza dos meus preconceitos. Sinto-me realmente doente, carecido de salvação. Sinto-me, também eu, fariseu. Mas não consigo esconder-Te a minha verdade: tu sabes que o meu coração não é puro, que a minha vida não é santa, que, muitas vezes, julgo, desprezo e condeno os outros, tentando justificar-me com obras que são só aparência. A tua graça faz-me, hoje, tomar consciência de tudo isso, e faz-me experimentar um enorme vazio dentro de mim. Como o publicano da parábola, dobro-me a teus pés e digo: «tem piedade de mim, q
ue sou pecador». Sei que, também a mim, queres dar a graça de reconhecer a minha humildade, e de experimentar a tua misericórdia imensamente maior que os meus preconceitos e os meus pecados. Por isso, Te digo: Senhor, se quiseres, podes curar-me. Amen.
Contemplatio
Mesererel… Não sentimos a necessidade de implorar a misericórdia divina, quando pensamos nas nossas faltas e em toda a indiferença e ingratidão que mostrámos … para com o Sagrado Coração de Jesus?
Se a nossa vida foi daquelas que se dizem piedosas, acautelemo-nos para não nos envaidecermos como o Fariseu, imitemos antes a humildade do Publicano, porque, se fizemos pouco mal, acaso fizemos todo o bem que Nosso Senhor esperava de nós?
Não temos de tremer ao examinarmos a proporção entre as graças recebidas e o pouco fruto que delas tirámos?
O livro da Imitação pede-nos a extirpação de um defeito por ano, chegámos aí? Pensemos também na tibieza de tantas almas que provocam os vómitos de Nosso Senhor; pensemos nos pecados que mais ferem o seu Coração, os do povo escolhido, os dos culpados que escandalizam as crianças. O nosso acto de desagravo hoje deve ser incessante por todos estes pecados … (leão Dehon, OSP 4, p.603).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:

«Tem piedade de mim, que sou pecador» (Lc 18, 13). (Dehonianos)

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