Na proporção em que penetra nas
realidades dos seres em busca de uma união maior com Deus, ela cresce em sua
capacidade de analisá-las com integridade, elevação e pureza.
Pelo contrário, se
o homem perde essa castidade natural da inteligência, ao negar-se a procurar a
Deus na obra da criação — e isso acontece sempre — as trevas penetram de certo
modo em seu coração, podendo levá-lo à idolatria, conforme nos afirma o
apóstolo: “Com efeito, a ira de Deus manifesta-se do céu contra toda a
impiedade e injustiça daqueles homens que retêm a verdade de Deus na
injustiça[1], porque o que se pode conhecer de Deus é-lhes manifesto, pois Deus
lho manifestou. De fato, as coisas invisíveis dele, depois da criação do mundo,
compreendendo-se pelas coisas feitas, tornaram-se visíveis, e assim o seu poder
eterno e a sua divindade[2], de modo que são irrecusáveis, porque, tendo
conhecido a Deus, não O glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, mas
desvaneceram-se nos seus pensamentos e obscureceu-se o seu coração insensato,
pois, dizendo ser sábios, tornaram-se estultos, e mudaram a glória de Deus
incorruptível na figura de um simulacro de homem corruptível, de aves, de
quadrúpedes e de serpentes” (Rm 1, 18-23).
Depois de empreender os movimentos
iniciais nas veredas do uso da razão, com seus puros e naturais recursos, logo
nos primeiros esforços para compreender os seres criados que o circundam, pode
o homem conceber a idéia da existência de Deus. Verá que Ele se constitui no
ser absoluto, causa eficiente de toda criação, conservador do universo. Não
tardará em se dar conta de ser Ele o fim supremo de cada criatura em
particular, como também do conjunto de todas elas. Por isso, conforme lemos
nesses versículos de São Paulo, uma inteligência virginal, jamais “retém” em si
mesma o conhecimento desinteressado e, portanto, nunca recusa os ensinamentos
nascidos das realidades criadas, assim trilhando as vias em busca de Deus, a
não ser que já O tenha encontrado. E mesmo neste caso, crescerá nela, o desejo
de ainda mais e mais reencontrá-Lo.
Eis, naturalmente falando, uma
inteligência casta. Nesse caminho da descoberta de Deus, essa inteligência,
nEle repousará, contemplando Seus esplendores em Sua obra, com inteira
abertura, sem a menor resistência, e até mesmo reticência, com integridade,
submissão à realidade
[1] É preciso inteligir e agir em
consequência do conhecimento que o homem tem de Deus e de Sua natureza através
da obra da criação, caso contrário, esse conhecimento se torna enclausurado na
maldade do pecado original, na qual todos nós nascemos. Uma vez retida essa
“verdade de Deus”, o conhecimento passa a ser inativo.
[2] “Deus, criando e conservando
todas as coisas por meio de Seu Verbo, proporciona aos homens nas coisas
criadas, um testemunho permanente de si mesmo…” (Dei Verbum, 3 – Concílio
Vaticano II).
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