sábado, 18 de março de 2017

III Domingo da Quaresma



Evangelho do dia (Jo 4,5-15.19b-26.39a.40-42):

Naquele tempo, 5Jesus chegou a uma cidade da Samaria, chamada Sicar, perto do terreno que Jacó tinha dado ao seu filho José. 6Era aí que ficava o poço de Jacó. Cansado da viagem, Jesus sentou-se junto ao poço. Era por volta de meio-dia. 7Chegou uma mulher de Samaria para tirar água. Jesus lhe disse: “Dá-me de beber”.
8Os discípulos tinham ido à cidade para comprar alimentos. 9A mulher samaritana disse então a Jesus: “Como é que tu, sendo judeu, pedes de beber a mim, que sou uma mulher samaritana?” De fato, os judeus não se dão com os samaritanos.
10Respondeu-lhe Jesus: “Se tu conhecesses o dom de Deus e quem é que te pede: ‘Dá-me de beber’, tu mesma lhe pedirias a ele, e ele te daria água viva”.
11A mulher disse a Jesus: “Senhor, nem sequer tens balde e o poço é fundo. De onde vais tirar água viva? 12Por acaso, és maior que nosso pai Jacó, que nos deu o poço e que dele bebeu, como também seus filhos e seus animais?”
13Respondeu Jesus: “Todo aquele que bebe desta água terá sede de novo. 14Mas quem beber da água que eu lhe darei, esse nunca mais terá sede. E a água que eu lhe der se tornará nele uma fonte de água que jorra para a vida eterna”.
15A mulher disse a Jesus: “Senhor, dá-me dessa água, para que eu não tenha mais sede e nem tenha de vir aqui para tirá-la”.19b“Senhor, vejo que és um profeta!” 20Os nossos pais adoraram neste monte, mas vós dizeis que em Jerusalém é que se deve adorar”.
21Disse-lhe Jesus: “Acredita-me, mulher: está chegando a hora em que nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai.22Vós adorais o que não conheceis. Nós adoramos o que conhecemos, pois a salvação vem dos judeus.
23Mas está chegando a hora, e é agora, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade. De fato, estes são os adoradores que o Pai procura. 24Deus é espírito, e aqueles que o adoram devem adorá-lo em espírito e verdade”.
25A mulher disse a Jesus: “Sei que o Messias (que se chama Cristo) vai chegar. Quando ele vier, vai nos fazer conhecer todas as coisas”. 26Disse-lhe Jesus: “Sou eu, que estou falando contigo”.
39aMuitos samaritanos daquela cidade abraçaram a fé em Jesus. 40Por isso, os samaritanos vieram ao encontro de Jesus e pediram que permanecesse com eles. Jesus permaneceu aí dois dias. 41E muitos outros creram por causa da sua palavra. 42E disseram à mulher: “Já não cremos por causa das tuas palavras, pois nós mesmos ouvimos e sabemos que este é verdadeiramente o salvador do mundo”.

Homilia:


Jesus e a samaritana

3º Domingo da Quaresma
Uma história de amor: é o que nos apresenta o Evangelho de hoje!

“Jesus sentou-se junto ao poço. [...] chegou uma mulher de Samaria para tirar água”. É de estranhar, à primeira vista, que a mulher da Samaria tenha andado quase um quilômetro para tirar água do poço de Jacó, sendo que no entorno de Sicar havia duas fontes de água que eram usadas pela população. Temos, aqui, um simbolismo bíblico: o poço, na Bíblia, é o lugar onde se encontravam os pastores para descansar e se recomporem depois de uma jornada de trabalho. Ao redor do poço também os mercadores se detinham para se refazerem e aproveitavam para negociar entre eles. Ao poço iam as mulheres para buscar água, pois era uma função feminina à época. No poço se encontravam os namorados. A Bíblia relata vários encontros de enamorados junto ao poço: junto ao poço se encontraram Rebeca e o servo de Isaac que a conduziu para que se conhecessem, e acabaram por se casar; Jacó conheceu Raquel junto ao poço e a desposou; junto ao poço Moisés conheceu Zípora, com quem se casou. Se o evangelista coloca junto ao poço o encontro do Esposo esperado, anunciado por João Batista, e a Samaritana, alguém que tem um histórico de traições e que ainda não encontrou um esposo definitivo, o faz propositadamente. Aqui há uma chamada ao simbolismo do poço.

“Cansado da viagem, Jesus sentou-se junto ao poço”. É a única referência no Evangelho ao cansaço de Jesus. O Esposo veio de longe à procura de sua esposa. Mesmo cansado continua à procura: não consegue ficar longe dela. Aliás, é somente quando contemplamos o Crucificado que percebemos o quão longe está o Senhor disposto a ir por amor à humanidade! A hora do encontro é também interessante: “Era por volta do meio-dia”. Não era comum ir ao poço nesse horário, pois o calor era demasiado. Ia-se logo cedo ou no final da tarde. No Evangelho de São João encontramos um outro episódio acontecido nessa hora: durante a paixão de Jesus, por volta do meio dia, Pilatos apresentou Jesus à multidão dizendo “Eis o homem. [...] Era por volta do meio-dia” (Jo 19,5.14). No momento em que o sol está a pino, no momento em que a luz é mais forte, dá-se o encontro de Jesus com a humanidade.

Entra em cena o segundo personagem, a mulher de Samaria. “Chegou uma mulher de Samaria para tirar água. Jesus lhe disse: ‘Dá-me de beber’”. Não à toa a samaritana não vem nominada. A Samaria representa uma parte do povo de Israel que se afastou da Aliança feita com Deus. Não é ela que vai ao encontro de Jesus, mas Ele é quem se dirige a ela e pede de beber. É Ele quem tem sede de reencontrar a ovelha perdida. “Dá-me de beber” – pedir água significa pedir acolhida, segundo a cultura semítica. Jesus tem uma necessidade interior de ser acolhido; pede hospitalidade. “Tenho sede!” (Jo 19,28), disse Jesus do alto da Cruz. O Senhor tem sede de nosso coração, de nosso amor, de ser acolhido em nosso interior, e anseia pelo encontro com a união plena de Si com a Esposa, a humanidade afastada. “A minh’alma tem sede de Deus, e deseja o Deus vivo. Quando terei a alegria de ver a face de Deus?” (Sl 41). Essa sede é recíproca: também noss’alma tem sede de Deus.

“Como é que tu, sendo judeu, pedes de beber a mim, que sou uma mulher samaritana?”. Deus tem sede de amor. Mas a quem pede para que essa sede seja saciada? Deus não pede amor aos santos. Destes já tem sua sede saciada, e estes já estão saciados também! Ele tem sede justamente dos corações ausentes, e estes – mesmo que não percebam – não se saciam enquanto não beberem da fonte de água viva.

“Se tu conhecesses o dom de Deus e quem é que te pede: ‘Dá-me de beber’, tu mesma lhe pedirias a ele, e ele te daria água viva”. A sede de Deus, a sede de infinito, a sede de saciedade plena que todos temos, a podemos tentar aplacar com água material, com as realidades deste mundo, mas jamais obteremos sucesso.

“Disse-lhe Jesus: ‘Vai, chama teu marido e volta aqui’. A mulher respondeu: ‘Não tenho marido’. Disse Jesus: ‘Tens razão em dizer que não tens marido. Tiveste cinco maridos, e o que agora tens não é teu’”. A entrega plena do coração e da alma a alguém ou a algo que não seja o próprio Deus não sacia o coração humano. A samaritana já estava no sexto marido. Jesus foi o sétimo que ela encontrou. Sete é, na Sagrada Escritura, símbolo da perfeição e da plenitude. Somente ao encontrar o Senhor é que seu coração se saciará plenamente, é somente então que sua sede será saciada.

Assim como o povo hebreu, enquanto peregrinava rumo à terra prometida, saciou sua sede na rocha aberta pela vara de Moisés, também nós, povo peregrino no deserto deste mundo rumo ao céu, nos aproximamos da pedra que os construtores rejeitaram e que se tornou a pedra angular, e que foi aberta pela lança do soldado, e da qual jorra a água do Batismo e o sangue da Eucaristia, e ali saciamos nossa sede; e é ali, no lado aberto de Cristo, novo Adão, de onde surge a nova Eva, a Igreja, que o Senhor finalmente sacia a sua sede de união conosco.

Valha-nos Santa Maria, para que compreendamos essas realidades e prossigamos nossa caminhada quaresmal sempre e mais unidos a Cristo. Amém.

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