Vejamos mais alguns traços das qualidades que desenham o retrato do homem bom.
É evidente que ser bom não significa ser impecável. Quando o jovem rico do Evangelho se atirou aos pés de Cristo, perguntando-lhe com os olhos a brilhar:
Bom Mestre, que devo fazer para alcançar a vida eterna?, Jesus respondeu-lhe:
Por que me chamas bom? Ninguém é bom senão só Deus (Mc 10, 17-18).
Somente Deus possui a perfeição sem defeito, em plenitude. Os homens somos todos falíveis, e os nossos melhores esforços e qualidades vão sempre acompanhados pelo contraponto dos erros, pecados e misérias. Seria, pois, uma ilusão imaginar que o homem de uma só peça que retratávamos antes não tivesse fissuras nem brechas.
Mas, dentro do quadro da inevitável debilidade humana, o homem verdadeiramente bom possui uma qualidade marcante: nunca o vemos
dominado por fraquezas mesquinhas ou baixas. E este é um ponto importante.
O homem bom pode ter – e realmente tem – momentos de ira, de cansaço, de impaciência ou de preguiça. Mas não é escravo de sentimentos pequenos: no seu coração, nunca lançam raízes as paixões baixas do calculismo – não regateia, querendo baratear a sua doação –, da inveja, do melindre, da suscetibilidade, do ressentimento ou da vingança. É um homem fraco e pecador – como todos os homens –, mas ao mesmo tempo é um coração livre da triste teia de aranha que amesquinha muitas almas: o egoísmo e seu irmão gêmeo, o amor-próprio doentio. Tem um coração maior que essas misérias.
Este é outro dos motivos por que a sua bondade irradia, com um calor atraente. A mesquinhez ensombrece e degrada a bondade. Quando admiramos alguém, e inesperadamente descobrimos que está dominado por alguma dessas pequenas paixões que acabamos de mencionar, sentimos uma profunda decepção. É como se a luz divina, que até então iluminava nele ideais de grandeza, de repente tivesse ficado encoberta.
Nobre pela sua coerência e livre de mesquinhez, o homem bom se nos revela assim em toda a sua riqueza espiritual. Só ele é capaz de harmonizar traços morais que, na maioria dos homens, apenas se encontram de forma parcial ou conflitante.
A verdadeira bondade sabe conjugar estavelmente a energia na atuação e a compreensão com as pessoas; o entusiasmo pelos ideais, trabalhos e objetivos, e o desprendimento; a firmeza de critério e a prudente flexibilidade; a equanimidade e o ardor; a serenidade e a paixão; a grandeza de alma, que não se conforma com a mediocridade, e a humildade de coração; a capacidade de ser, ao mesmo tempo, um grande despertador de inquietações – alguém que nos sacode a inércia e o comodismo – e um transmissor de paz.
Qualidades que parecem contrárias, e até incompatíveis, convivem em equilíbrio na alma do homem bom. São como as cores diversas, que se fundem numa única luz. Por isso, o homem bom deixa-nos sempre a impressão de ser um homem “completo”, em que as virtudes atingem a medida certa e compõem um conjunto de rara beleza e equilíbrio. É isso que as torna sugestivas e atraentes e incita à imitação.
Trecho do livro de F.F
O homem bom-Reflexões sobre a bondade
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