Posted: 02 Mar 2017 10:00 PM PST
Meditemos sobre a Apresentação de Jesus Cristo, a profecia do velho Simeão e a dor da Virgem Maria.
Neste primeiro sábado do mês, no qual queremos reparar as ofensas cometidas contra o Imaculado Coração de Maria Santíssima, meditemos sobre o mistério da Apresentação Jesus Cristo no templo de Jerusalém e a profecia da espada da dor que transpassaria seu coração de Mãe. Com esta meditação, cumpriremos uma das quatro práticas da devoção dos cinco primeiros sábados em reparação ao Imaculado Coração de Maria, tão ultrajado pelos pecados dos homens.
Na Apresentação de seu Filho Jesus Cristo no Templo, a Virgem Maria ouviu a profecia do velho Simeão: “Eis que este menino está destinado a ser uma causa de queda e de soerguimento para muitos homens em Israel, e a ser um sinal que provocará contradições, a fim de serem revelados os pensamentos de muitos corações. E uma espada transpassará a tua alma” (Lc 2, 34-35).
A profecia da espada de dor e os sofrimentos da Virgem Maria
Neste vale de lágrimas, cada um de nós nasce para chorar e consequentemente devemos padecer aqueles males que diariamente nos visitam. Por isso, muito mais triste e penosa seria a nossa vida, se cada um de nós soubesse os males que futuramente nos afligiriam! O Senhor usa de compaixão para conosco em não nos revelar as cruzes que nos esperam, a fim de que, se as temos de padecer, ao menos as soframos uma só vez.
Deus não usou de semelhante compaixão para com a Virgem Maria, pois Deus quis que ela fosse Rainha das dores. De modo muito semelhante ao seu divino Filho, teve sempre diante dos seus olhos maternos todas as penas que a esperavam e, por conseguinte, padeceu continuamente, por causa das penas da paixão e morte de seu amado Filho Jesus Cristo.
No templo de Jerusalém, o velho Simeão recebeu o Menino Deus em seus braços e profetizou à sua Mãe que o seu Filho seria causa de contradições e que sofreria perseguições dos homens. Por isso, uma espada de dor traspassaria a sua alma: “Tuam ipsius animam pertransibit gladius ― Uma espada transpassará a tua alma” (Lc 2, 35).
O rei Davi, no meio de todas as suas delícias em seu palácio, depois que ouviu o profeta Natan anunciar a morte de seu filho (cf. 2 Sm 12, 14), não teve mais paz: chorou, jejuou, prostrou-se por terra, até a morte de seu filho (cf. 2 Sm 12, 16-23). Mas, não foi assim com Nossa Senhora. Em profunda paz, a Virgem Santíssima recebeu a profecia da morte do seu divino Filho e, com a mesma paz, continuou a sofrer. Entretanto, mesmo em paz, que dor não sentiu o seu Coração Imaculado?!
O conhecimento que a Mãe de Deus tinha com antecedência a respeito do sacrifício que deveria fazer não serviu para suavizar os seus sofrimentos. Pois, como foi revelado a Santa Teresa, “a bendita Mãe conheceu então em particular e mais distintamente todas as circunstâncias dos sofrimentos, tanto exteriores como interiores, que haviam de atormentar o seu Jesus na sua Paixão. Numa palavra, a mesma Bem-Aventurada Virgem disse a Santa Matilde, que a este aviso de São Simeão toda a sua alegria se converteu em tristeza”[1].
A contínua e crescente dor da Santíssima Virgem
A dor de Nossa Senhora não diminuiu com o passar do tempo. Ao contrário, seu sofrimento aumentava cada vez mais à medida que seu Filho Jesus crescia em sabedoria, em idade e em graça, junto de Deus e junto dos homens (cf. Lc 2, 52), se tornava mais amável aos olhos de sua Mãe, e se aproximava o tempo da sua dolorosa Paixão. A própria Virgem Maria revelou a Santa Brígida: “Cada vez que eu olhava para meu Filho, sentia o meu coração oprimido de nova dor, e enchiam-se meus olhos de lágrimas”[2].
São Ruperto, grande apóstolo da Baviera, fundador da bela cidade de Salzburgo, na Alemanha, contempla Maria Santíssima dizendo ao seu Filho enquanto o alimentava:
“Fasciculus myrrhae dilectus meus mihi; inter ubera mea commorabitur – meu bem-amado é para mim um saquitel de mirra, que repousa entre os meus seios” (Ct 1, 13). Ah, Filho meu, eu te aperto entre meus braços porque muito te amo; mas quanto mais te amo, tanto mais para mim te transformas em ramalhete de mirra e de dor, pensando em tuas penas. Tu és a fortaleza dos Santos, e um dia entrarás em agonia; és a beleza do paraíso, e um dia serás desfigurado; és o Senhor do mundo, mas um dia serás preso como um réu; és o Criador do universo, mas um dia te verei lívido pelas pancadas; numa palavra, tu és o Juiz de todos, a glória dos céus, o Rei dos reis, mas um dia serás sentenciado, desprezado, coroado de espinhos, tratado como rei de escárnio e pregado num infame patíbulo. E eu, que sou tua Mãe, eu, que te amo mais que a mim mesma, terei de ver-te morrer de dor, sem te poder dar o menor alívio: Fasciculus myrrhae dilectus meus mihi ― O meu amado é para mim um ramalhete de mirra[3].
Se Jesus Cristo, nosso Rei e Senhor, e a Virgem Maria, nossa Rainha e Senhora, ainda que inocentes, não recusaram sofrer durante suas vidas uma pena tão intensa e cruel por amor a nós, não é justo que nos lamentemos se padecemos um pouco, nós que desgraçadamente muitas vezes merecemos as penas do inferno.
Portanto, o Senhor usa da compaixão para conosco em não nos revelar as cruzes que nos esperam, a fim de que as soframos de uma só vez. Ao contrário, depois da profecia de São Simeão: “Tuam ipsius animam pertransibit gladius ― Uma espada transpassará a tua alma” (Lc 2, 35), Nossa Senhora tinha sempre diante dos seus olhos e padecia continuamente todas as penas que a esperavam na Paixão do Filho de Deus. Mas, se Jesus e Maria, vítimas inocentes, padeceram tanto por amor a nós, como ousaremos lamentar, nós que somos pecadores, quando sofremos um pouco por amor à Mãe e ao Filho?
Oração de Santo Afonso Maria de Ligório a Mãe de Deus
Ó santa Mãe de Deus e minha Mãe, Maria! Vós tanto vos interessastes pela minha salvação, que chegastes a sacrificar à morte o objeto mais caro ao vosso coração, o vosso amado Jesus. Se tanto desejastes ver-me salvo, é justo que em vós, abaixo de Deus, ponha todas as minhas esperanças. Ó Virgem bendita, por isso é que confio em vós inteiramente. Ah! pelo merecimento do grande sacrifício da vida de vosso Filho, que oferecestes a Deus neste dia, rogai-lhe que se compadeça da minha alma, pela qual o Cordeiro Imaculado não recusou morrer na cruz.
Quereria, ó minha Rainha, também eu neste dia, à vossa imitação, oferecer meu pobre coração a Deus. Mas temo que o recuse, vendo-o tão manchado e imundo. Se vós, porém, lho oferecerdes, não recusará certamente. Ele aprecia e recebe todas as ofertas que lhe são apresentadas por vossas mãos puríssimas. A vós, pois, ó Maria, apresento-me hoje, miserável como sou, e a vós inteiramente me consagro. Oferecei-me como coisa vossa, juntamente com Jesus, ao Eterno Pai. Rogai-lhe que, pelos méritos do Filho e por amor de vós, me aceite e tome para si. Ah! Mãe dulcíssima, por amor desse Filho sacrificado, ajudai-me sempre, e não me abandoneis. Não permitais que eu venha um dia a perder por meus pecados este meu amabilíssimo Redentor, hoje por vós oferecido à cruz com tanta dor. Dizei-lhe que sou vosso servo; dizei-lhe que em vós pus toda a minha esperança; dizei-lhe, enfim, que me quereis salvar e ele não poderá deixar de atender-vos. Amém[4].
Nossa Senhora das Dores, rogai por nós!
Referências:
[2] Idem, p. 297.
[3] Idem, ibidem.
[4] SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO. Glórias de Maria, p. 323-324.
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