Evangelho do dia (Lc 18,1-8):
Naquele tempo, 1Jesus contou aos discípulos uma parábola, para mostrar-lhes a necessidade de rezar sempre, e nunca desistir, dizendo:
2”Numa cidade havia um juiz que não temia a Deus, e não respeitava homem algum. 3Na mesma cidade havia uma viúva, que vinha à procura do juiz, pedindo: ‘Faze-me justiça contra o meu adversário!’
4Durante muito tempo, o juiz se recusou. Por fim, ele pensou: ‘Eu não temo a Deus, e não respeito homem algum. 5Mas esta viúva já me está aborrecendo. Vou fazer-lhe justiça, para que ela não venha a agredir-me!’”
6E o Senhor acrescentou: “Escutai o que diz este juiz injusto. 7E Deus, não fará justiça aos seus escolhidos, que dia e noite gritam por ele? Será que vai fazê-los esperar?
8Eu vos digo que Deus lhes fará justiça bem depressa. Mas o Filho do homem, quando vier, será que ainda vai encontrar fé sobre a terra?”
Homilia:
A oração e o combate espiritual
29° Domingo do Tempo Comum – Ano C
A experiência nos atesta: para cada objetivo que nos propomos alcançar, precisamos colocar os meios certos para termos êxito. Se alguém, por exemplo, por recomendação médica ou mesmo por questões de disposição ou de estética propõe-se perder peso, sabe-se que é preciso fazer exercícios físicos e, paralelamente, cuidar melhor de sua alimentação. Não adiantaria de nada ficar somente se lamentando sobre o próprio peso enquanto devora uma barra de chocolate e passa o dia sentado diante da televisão!
Na vida espiritual não é diferente. Para alcançarmos o objetivo da santidade, da união com Deus, é preciso colocar os meios. Entre os meios para alcançarmos a meta proposta tem um em particular que é imprescindível: a vida de oração. Sem esta, seríamos aqueles cristãos meia-boca que se lamentam por não ter uma maior profundidade espiritual mas que, ao mesmo tempo, não se mexem, ficam estagnados, “engordando” sua vida espiritual de tal forma que, quando se dão conta, estão tão pesados que não conseguem mais alcançar as alturas da santidade. Não é à toa que a Igreja chama a vida de oração de “exercícios espirituais” ou “exercícios de piedade”! Queremos ter vida sobrenatural? Pois então exercitemo-nos através da oração!
Ouvimos na Liturgia de hoje que «enquanto Moisés conservava a mão levantada, Israel vencia; quando abaixava a mão, vencia Amalec»; e o Senhor, «para mostrar-lhes [aos seus discípulos] a necessidade de rezar sempre e nunca desistir», contou-lhes a parábola da viúva inoportuna e do juiz injusto.
“Conservar a mão levantada”, “rezar sempre e nunca desistir” – eis a fórmula para a “hipertrofia espiritual”!
Vejamos, agora, como fazer isso acontecer na prática:
a) Disposições exteriores:
Disposições físicas: assim como é preciso tomar uma série de cuidados no exercício físico para que tenhamos maior desempenho (usar um tênis apropriado para a corrida, usar uma roupa confortável, colocar os pesos certos e executar bem as séries que o instrutor nos orienta a fazer), também os exercícios de piedade renderão melhor se pusermos os cuidados certos. Somos um composto de corpo e alma. Não é somente a alma que reza. O corpo reza também. Não é o mesmo rezar de joelhos ou rezar deitados. Claro está que as circunstâncias devem sempre ser levadas em conta, mas sempre que possível, façamos com que nosso corpo reze junto com a alma: ajoelhar-se diante do Santíssimo Sacramento, permanecer de pé ou ajoelhar-se diante de uma imagem de algum santo (não estamos falando aqui em “adoração” de imagens, mas em respeito e veneração), e daí por diante. O bom senso nos ajuda a dispormos o nosso físico para que ajude nos exercícios espirituais.
Disposições ambientais: somos seres sensíveis, que respondemos aos estímulos exteriores. Não dá no mesmo rezar em casa ou rezar diante do Santíssimo Sacramento! Não dá no mesmo rezar no silêncio do quarto ou rezar diante da TV ligada em algum filme, noticiário ou novela. De novo: vale o bom senso. Haverá ocasiões em que não poderemos estar em uma Igreja rezando diante do Senhor, pois então que o façamos em casa. Haverá ocasiões em que não conseguimos rezar senão no corre-corre do trânsito, então que o façamos enquanto nos dirigimos ao trabalho. Mas isso não significa que não procuremos um tempo para estar em silêncio ou que deixemos de lado a oração na Igreja!
b) Disposições interiores: sem motivação não fazemos nada. Sem a determinação de querer fazer bem qualquer exercício, sempre arrumamos desculpas e justificativas para adiá-los. O mesmo princípio vale para a vida espiritual: “Dizes que sim, que queres. – Está bem. – Mas... queres como um avaro quer o seu ouro, como uma mãe quer ao seu filho, como um ambicioso quer as honras, ou como um pobre sensual quer o seu prazer? – Não? Então não queres.» - dizia São Josemaria Escrivá (Caminho, 316) a respeito do querer ser santo.
Humildade: é o que evitará que caiamos no erro do pelagianismo, ou seja, pensar que a santidade é fruto somente de nossos esforços – «Sem mim nada podeis fazer» (Jo 15,5)! Além de reconhecermos nossa dependência em relação a Deus, também tenhamos em mente que com a sua oração «o homem não reza para orientar a Deus, mas para orientar-se a si mesmo»(Santo Agostinho). Deus sabe do que precisamos; nós é que às vezes não sabemos...
Confiança: a confiança na eficácia da oração está fundamentada sobre o alicerce da fé. Sem a fé, nossa oração não passa de um “vai que dá certo”, ou de mais uma simpatia entre tantas outras das quais nos servimos para saciar nossos caprichos. O contrário da fé não é a descrença, mas a dúvida. Lembremos o episódio de Pedro caminhando sobre as águas: ao sentir a violência do vento, teve medo e começou a afundar. Jesus estendeu-lhe a mão, segurou-o e lhe disse: «Homem de pouca fé, por que duvidaste?» (Mt 14,31).
Em todo o caso, além das disposições interiores e das disposições exteriores, é imprescindível a perseverança. Não é da noite para o dia que entramos em forma fisicamente. Por vezes são necessários meses, senão anos de treino para conseguir alcançar nossos objetivos. Na vida espiritual se dá o mesmo: não é com alguns exercícios esporádicos que nos tornamos fortes. E assim como acontece fisicamente, também acontece espiritualmente: para que estejamos fortes nos momentos de prova é preciso que tenhamos um preparo tal que nos permita resistir na hora “H” da tentação ou da dificuldade. Uma grande tentação que temos é rezar “na hora do aperto”. Ora, se não rezamos em tempos de tranquilidade, não termos a resistência necessária para permanecermos de pé na hora da tribulação!
De onde Santa Maria tiraria forças na hora da morte de seu Filho na Cruz, se por acaso não tivesse feito de sua vida um constante exercício de união com Deus? Contemplemos seu exemplo e sigamo-lo, suplicando concomitantemente seu amparo e intercessão, para que o convite que o Senhor hoje nos faz – rezar sempre e nunca desistir – seja aceito por nós e seja colocado em prática. Afinal, fazer oração não é algo que se convence; é algo que se experimenta.
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