Evangelho do dia (Lc 7,1-10):
Para encerrar, penso que seja oportuno citar Erri de Luca, jornalista, escritor e poeta italiano: “Crente não é quem acreditou uma vez por todas, mas quem, em obediência ao particípio presente do verbo, renova seu credo continuamente”. Quando Isabel saúda Maria, exclama: “Bem-aventurada aquela que acreditou” (Lc 1,45). O original grego usa o verbo crer indicando um estado permanente, como se disséssemos“ Bem-aventurada aquela que é crente (que acreditou então e continua acreditando)”. Crer não é tanto um ato heroico e excepcional, feito uma vez por todas; é, antes, uma escolha cotidiana. Maria é modelo de tal fé: segue seu Filho nos dias ocultos de Nazaré, segue Jesus no meio da multidão, segue Cristo no meio da prova e permanece com Ele no momento do adeus doloroso no Calvário. Seja ela nosso modelo de uma fé que se crê, mas, sobretudo, numa fé que confia. Amém.
Homilia:
“Nem em Israel encontrei tamanha fé”
9º Domingo do Tempo Comum – Ano C
Conta-se que os moradores de uma região, castigada pela seca há vários anos, foram até o padre da paróquia local pedir que ele rezasse uma missa especial que trouxesse a chuva de volta. O padre negou-se a rezar a missa, alegando que nada aconteceria, pois seria necessário que o povo tivesse muita fé em Deus. O religioso foi, então pressionado pela comunidade. Todos afirmavam que possuíam a fé requerida para que a chuva viesse. Muito contrariado, o padre marcou a missa para a manhã seguinte. Na hora combinada, o povo lotou a igreja. O padre chegou sem dar uma palavra. Atravessando o corredor central, dirigiu-se ao púlpito e disse: “Caros irmãos, tomei uma decisão: não vou rezar a missa, pois agora tenho absoluta certeza de que os senhores não têm fé!”. Houve uma grande agitação na Igreja, todos reagindo contra as palavras do padre. O líder da comunidade levantou-se e protestou com veemência: “Padre, em nome de todos aqui reunidos, permita-me discordar do senhor. Todos aqui têm muita fé e acreditam que esta missa vai trazer a chuva”. O padre escutou com atenção os “fiéis” e perguntou: “Meus caros, se os senhores têm tanta fé, por que ninguém aqui trouxe um guarda-chuva para a Igreja?”.
Meus caros, o centurião do qual nos fala o Evangelho de hoje recebe um dos mais altos elogios de Jesus: “Eu vos declaro que nem mesmo em Israel encontrei tamanha fé”. Não gostaríamos nós, também, de receber tal elogio do Senhor? O que é necessário para tanto? O centurião nos mostra, pela sua atitude, a diferença abissal que existe entre a fé que se crê e a fé que confia. Ele é um pagão romano, mas Cristo dirige a ele palavras de admiração tais que só se encontram iguais no episódio da mulher cananeia (também ela estrangeira!). A fé que crê é aquela que aceita os dogmas e que leva o batizado a crer que Deus existe, que é o Criador de tudo, que é Onipotente e que Jesus é o Salvador. Já fé que confia é aquela que nos dá estabilidade interior e otimismo nas provas e nos momentos em que Deus parece ter se esquecido de nós, pois nos torna conscientes do fato que Deus dispõe tudo com infinita sabedoria, e mesmo sua aparente demora em nos atender serve para o nosso crescimento na santidade; mas, sobretudo, é aquela confiança de que a última palavra é sempre a Sua.
Além da fé que confia, diversas outras atitudes daquele centurião são extremamente agradáveis e queridas pelo Senhor:
Ele tem compaixão pelos que estão sob suas ordens. Apesar de desempenhar uma função de comando, não se sente superior como pessoa. Antes, sente-se responsável pelos que estão sob suas ordens, e os trata com compaixão, não como peças de xadrez no tabuleiro da vida. É capaz de angustiar-se diante da doença de seus subalternos.
Apesar de não ser judeu, manifesta respeito pela fé alheia – seu soldado era hebreu. E seu respeito pela fé alheia não era apenas afetivo, mas efetivo: “Ele até nos construiu uma sinagoga”. Não se preocupava somente com o bem-estar físico de seus subalternos, mas também com a vida espiritual destes.
A pedra de toque para que o pedido do centurião em favor de seu empregado alcançasse a graça da cura: a humildade desse homem. Gozava de uma posição social de destaque, mas não se valia do título que possuía para dar um “carteiraço” em Jesus. Antes, sequer se sente digno de aproximar-se pessoalmente do Senhor: “enviou alguns anciãos dos judeus, para pedirem que Jesus viesse salvar seu empregado”. E quando Jesus se dirige à sua casa, “mandou alguns amigos dizerem a Jesus: ‘Senhor, não te incomodes, pois não sou digno de que entres em minha casa. Nem mesmo me achei digno de ir pessoalmente ao teu encontro”. Não se julga detentor de direitos diante de Deus. Reconhece que tudo é graça e dom. Não ordena nada a Deus; suplica e confia.
São as coisas de Deus... nos propõe por modelo de fé um homem que sequer era praticante da religião!
Para encerrar, penso que seja oportuno citar Erri de Luca, jornalista, escritor e poeta italiano: “Crente não é quem acreditou uma vez por todas, mas quem, em obediência ao particípio presente do verbo, renova seu credo continuamente”. Quando Isabel saúda Maria, exclama: “Bem-aventurada aquela que acreditou” (Lc 1,45). O original grego usa o verbo crer indicando um estado permanente, como se disséssemos“ Bem-aventurada aquela que é crente (que acreditou então e continua acreditando)”. Crer não é tanto um ato heroico e excepcional, feito uma vez por todas; é, antes, uma escolha cotidiana. Maria é modelo de tal fé: segue seu Filho nos dias ocultos de Nazaré, segue Jesus no meio da multidão, segue Cristo no meio da prova e permanece com Ele no momento do adeus doloroso no Calvário. Seja ela nosso modelo de uma fé que se crê, mas, sobretudo, numa fé que confia. Amém.
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