Posted: 28 Jul 2014 02:02 PM PDT
Se encontrardes belas e saborosas maçãs num espinheiro, sabei que não foi esse áspero arbusto que as produziu, mas sim um milagre de Deus. Se do ovo de uma serpente virdes sair um formoso e cantante rouxinol, sabei que não foi a serpente que o gerou, mas sim um outro milagre divino.
Estes pensamentos nos ajudam a entender como, neste século que parece realizar a profecia de Nosso Senhor “quando virdes estabelecida no lugar santo a abominação da desolação [...] a tribulação será tão grande como nunca foi vista desde o começo do mundo” (Mt 24, 15-21), é possível desabrochar de modo inesperado entre crianças e adolescentes, filhos de pais não religiosos, uma tendência a pedir o batismo. O fenômeno é notório na França, e o conhecido jornal “La Croix” dedica-lhe extensa reportagem em seu caderno Religião e Espiritualidade (19-4-14). Logo na epígrafe lemos: “É cada vez maior o número de crianças de mais de sete anos que empreendem um caminho de fé, para surpresa de seus familiares”.Alguns dados extraídos dessa reportagem, constituem o cerne deste artigo. Vamos a eles.
“‘Para me tornar melhor’. ‘Porque eu sentia necessidade de crescer com fé’. ‘Para dar um sentido a minha existência e pôr a minha vida nas mãos de Deus’. É por meio dessas palavras que Alexandre, Vitória e M’Ballou testemunham o seu percurso.
“Juntamente com dez outros de seus companheiros das capelanias [pastorais escolares] de Vanves et de Malakoff (Hauts-de-Seine), esses três adolescentes de 14 a 19 anos se preparam para se tornarem cristãos. Seu desejo de serem batizados não tem origem em suas tradições familiares.
“Impossível enumerar, entre as 12 mil crianças de 7 a 12 anos e os 5 mil adolescentes de 12 a 18 anos, batizados por ano, quantos empreenderam um caminho inteiramente pessoal, no qual os pais absolutamente não intervieram, fossem estes não-crentes, praticantes de outra religião, ou simplesmente afastados da Igreja.
Os responsáveis constatam que o fenômeno toma grande vulto. “Com uma mãe não batizada e um pai ateu, aos 14 anos Alexandre, bom aluno do curso colegial, escolheu abraçar a fé católica, para surpresa dos pais.
“Ao assistir um batismo, M’Ballou, que se prepara hoje em dia para um concurso de enfermagem, sentiu desejo de se aproximar da Igreja. ‘Eu cresci livre mas sem fé, entre uma mãe católica e um pai muçulmano. Eu me dei conta que a fé me fazia falta’, conta a jovem, hoje com 19 anos.
“Para Vitória, 17 anos, olhar claro e blusão de couro preto, em sua casa nunca se pôs o problema da religião. ‘Meus pais são divorciados. Minha mãe é batizada, mas nunca foi ao Catecismo, e meu pai tem a imagem da Ceifadora [representação da morte] tatuada no braço: a religião de nenhum modo é de seu gosto’.
Desde a idade dos 6 anos, a menina vem pedindo regularmente para ser batizada, mas sem sucesso. Até que ‘aos 15 anos, eu me zanguei verdadeiramente’ e então sua mãe telefonou para a capelania.
“Em Colommiers (Aude), Benjamin confessa sentir um certo ‘orgulho’ vendo seu filho Maxime, 10 anos, preparar-se para a celebração. ‘Foi por meio do escotismo que ele desejou frequentar o catecismo, ser batizado e fazer a Primeira Comunhão. De nosso lado, nem minha esposa nem eu somos crentes e praticantes. É sua primeira escolha de adulto. Eu o vejo crescer, ele traça seu caminho, torna-se autônomo’.”
Que neste século de incredulidade e torpezas possam germinar graças tão insignes quanto inesperadas, só pode ser atribuído a uma ação do Divino Espírito Santo, a rogos de Maria Santíssima. “O vento sopra onde quer; ouves-lhe a voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai. Assim acontece com aquele que nasceu do Espírito” (Jo 3,8). Um incrédulo poderia perguntar: mas no que vai dar tudo isto? Não tem futuro. Acabará engolido pelas ondas da modernidade. A resposta é: o Senhor não é o Deus das obras inacabadas. Se Ele começou a edificar, chegará ao fim, ainda que tenha de remover montanhas e convulsionar os mares, produzir terremotos e ativar vulcões. Aos que têm fé, cumpre acompanhar o fenômeno, favorecê-lo quanto lhe for possível, e sobretudo esperar com toda certeza a vitória final de Deus.
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