A GRANDE NOTÍCIA
Dando sequencia à reflexão do artigo anterior, antes de entrar nos “sete pedidos” do Pai-Nosso, quero comentar o que lhe é essencial. Aliás, quero comentar aquilo que é a essência do cristianismo, o que lhe é mais importante. Quero comentar a razão do verbo ter se encarnado, de Deus ter-se feito homem e ter vindo a terra. Enfim, quero falar daquela “boa notícia”, da grande notícia, da “boa mensagem”, ευαγγέλιον, que traduzido por “Evangelho” se presta a definir o gênero literário dos quatro mais importantes livros da Bíblia: os Evangelhos de Mateus, Marcos, João e Lucas.
Então, qual seria essa grande notícia descrita nesses quatro livros e que fez um Deus se encarnar para nos transmitir? Que tão boa mensagem é essa que fez com que Ele não se prevalecesse de sua condição divina e assumisse a nossa natureza para propagá-la em meio da humanidade?
Deus é pai! Eis a grande e boa notícia.
Entretanto, é lugar comum chamar a Deus de pai e o que estou chamando aqui de “boa nova”, mais parece um clichê, uma obviedade. Mas, será tão obvio assim? Vejamos o que significa tal notícia.
Conta Mateus em seu Evangelho que no instante em que Jesus morria, o “véu do Santuário se rasgou em duas partes, de cima abaixo" (Mt 27, 51). Para entender a simbologia de tal fato é importante lembrar que o templo de Jerusalém era dividido em dois compartimentos. Um deles, o Santuário, ou “Santos dos Santos” era o mais restrito, praticamente impenetrável. A palavra “santo” vem da raiz hebraica “kdsh” (se pronuncia Kadoshi), e quer dizer “separado”, assim, podemos dizer que "Santo dos Santos" é um superlativo de separado, algo inacessível. No templo, tal lugar era reservado a Deus, guardado e separado por um véu impenetrável onde apenas o Sumo Sacerdote entrava e apenas uma vez por ano. Era destinado a guardar a Arca da Aliança e, simbolicamente, guardava a glória de Deus a qual homem algum podia contemplar. Um Deus cujo nome é impronunciável e ao qual Moisés cobria o rosto para não ousar contemplá-lO. Pois, bem! Era esse Deus inefável, inatingível, terrível do Antigo Testamento que era representado pelo “Santo dos Santos”.
Na morte de Cristo o véu foi rasgado e o oculto foi revelado. O Deus, diante do qual os homens tremiam, revela sua verdadeira face e Aquele que tem um nome impronunciável revela seu verdadeiro nome: "Aba", Pai. O próprio Pai que acompanhava de perto seu filho na caminhada dolorosa do calvário rasgou o véu para se apresentar. Ele mesmo quis que entendêssemos sua mensagem de amor.
Todo o processo se deu a partir de Jesus, que sendo Filho unigênito, vem se revelar como nosso irmão e, assim, revelar Seu Pai como nosso Pai.
“Esse mesmo Deus que se ocultava, nos deu o Espírito do Seu Filho” (Gl 4,6) e é esse Espírito de Jesus, que nos convence que Deus é nosso Pai, testemunhando em nós que, sendo irmãos de Jesus, pelo mesmo Espírito nos tornamos filhos adotivos de Deus. Assim o amor e a tomada de consciência de que somos filhos supera o temor a Deus. Acrescenta São Paulo que não recebemos “um espírito de escravos, para recair no temor, mas ... um espírito de filhos adotivos no qual clamamos: Abba! Pai! O próprio Espírito se une ao nosso espírito para testemunhar que somos filhos de Deus. E se somos filhos, somos também herdeiros" (Cf. Rm 8, 14-17). São Paulo vai mais além e nos afirma que pelo Espírito clamamos não apenas Aba (pai), mas Abba (papai, paizinho)! Deus não é apenas nosso Pai, é nosso papai, nosso paizinho. Podemos nos jogar nos Seus braços sem temor ou receio. Um Pai “nosso”, de todos, dos justos e dos injustos (Cf. Mt 5, 45b), dos maus e dos bons, mas sobretudo daqueles que se deixam amar por ele e que se jogam em seus braços.
Deus é, portanto, um Pai que é “nosso” mas “que está no céu”. Ao contrário do que o termo pode sugerir, o “céu” não é um lugar, mas exatamente a ausência do tempo e do espaço e nos indica, ao mesmo tempo, a transcendência e imanência de Deus. Um Pai que está lá, mas está aqui, dentro do coração. Um Pai Onipotente e Onisciente que, segundo Davi sabe tudo sobre nós, que nos vê quando sentamos ou levantamos, que penetra nossos pensamentos, que observa nosso andar e nosso repouso, que sabe todos os nossos passos e conhece a palavra que vamos dizer antes mesmo que ela chegue em nossa língua; um Pai que nos cerca por trás e pela frente e que estende sobre nós a Sua mão (Cf. Sl 138 1-5).
É mergulhando no profundo de nós mesmos e no íntimo do nosso coração que descobriremos este "céu" no qual está o Pai, o Trono de Deus, como afirmou Jesus (Cf. Mt 5,34). Como ensina São Paulo, nós somos templo de Deus e Ele habita em nós (Cf. 1Rm 6,19). Assim, o “Céu” onde está o Pai é, antes de tudo, o nosso próprio coração. Daí, santificar o Seu nome é a atitude fundamental, o primeiro passo para a plenitude da vida, mas isso será tema para o artigo da semana que vem.
Texto extraído de http://www.wambert.com/blog/.
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