quarta-feira, 22 de abril de 2015

Catequese com adultos: as festas do Senhor no Tempo Comum

Santíssimos Corpo e Sangue de Cristo. Ter a coragem de sentar na mesma mesa, em comunhão com todos e sem distinção, para a festa da unidade.
Em nossa catequese no artigo anterior, continuando com o Tempo Comum, refletíamos sobre a Santíssima Trindade. Neste vamos entrar no mistério Eucarístico, onde Cristo permanece conosco como prometera no seu testamento[1] aos apóstolos. O rito antigo da páscoa judaica assume, com seu gesto, dimensões teológicas, agora não como simbólicas, mas como sinal que perdurará até à parusia celestial, afirmando que seu sangue vai ser derramado e seu corpo dado para remissão de todos.
UM POUCO DE HISTÓRIA DESTA SOLENIDADE
Temos vários comentários sobre a instituição desta solenidade. Vou me deixar guiar um pouco por Adolf Adam, em sua obra O Ano Litúrgico[2], para o enriquecimento da catequese. Ele descreve: A origem desta festa que se celebra na quinta-feira posterior à festa da Santíssima Trindade deve ser vista em conexão com a devoção ao Santíssimo Sacramento que desabrochou poderosamente ao longo do século XII e na qual se realçava de maneira particular a presença real do “Cristo todo” no pão consagrado.
A religiosa agostiniana Juliana Liège, no ano de 1209, com repetidas vezes, teve visões onde se via o disco lunar contendo em seu centro uma parte negra. A essa visão seatribuiu a necessidade de uma festa eucarística no ciclo anual. Por insistência sua e de seus conselheiros espirituais, o bispo Roberto de Liège introduziu a festa eucarística em sua diocese no ano de 1246. Em 1264 o papa Urbano IV a instituiu em toda a Igreja. Pela bula Transiturus é fundamentada a sua instituição como doutrina a ser celebrada em toda a Igreja com o culto à Eucaristia enquanto sacrifício e refeição. Mas somente com o papa Clemente V, durante o Concílio de Viena (1311-1312), voltando a insistir na festa, a consolidou. Com o papa João XXII, em consonância com a bula Transiturus nos Decretais Clementinos, tornou-a oficial com a denominação de Festum Ss. Corporis Chisti. Numa visão mais consolidada teologicamente, o novo Missal ampliou o título para “Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo”.  Os comentários sobre as Normas Universais sobre o Ano Litúrgico e o Calendário afirmam: “A Festa do Corpo de Deus é também a festa do Preciosíssimo Sangue, como se pode ver claramente a partir dos textos da missa e do ofício da festa, bem como da bula de introdução de Urbano IV”.

São Tomás de Aquino[3] menciona o significado da Eucaristia sob um tríplice aspecto contido nas orações presidenciais do missal: 1) do ponto de vista do passado, enquanto memorial da Paixão de Cristo que foi verdadeiro sacrifício; 2) do ponto de vista do presente, enquanto sacramento de nossa unidade em Cristo e dos homens entre si; 3) do ponto de vista do futuro, enquanto prefigurativo do “gozo da divindade”. Este tríplice significado está expresso em palavras semelhantes nas orações presidenciais da missa do dia: “Neste admirável sacramento, nos deixastes o memorial de vossa Paixão” (oração do dia);“Concedei, ó Deus, à vossa Igreja os dons da unidade e da paz, simbolizados pelo pão e pelo vinho que oferecemos na sagrada eucaristia” (oração sobre as oferendas); “Dai-nos [...] possuir o gozo eterno da vossa divindade, que já começamos a saborear na terra pela comunhão do vosso Corpo e do vosso Sangue” (oração depois da comunhão). Também percebemos o sentido eucarístico nos trechos dos evangelhos desta solenidade. No ano “A” proclama-se o discurso da promessa eucarística do pão vivo que desceu do céu (Jo 6, 51-59); no ano “B” relata-se a instituição do mistério eucarístico na Ceia de Jesus, colocando o Corpo e o Sangue de Cristo em conexão com sua Paixão (Mc 14,12-16.22-26); o ano “C” apresenta a multiplicação dos pães, deixando transparecer o milagre do amor eucarístico que se multiplica para alimentar o peregrino na caminhada para a vida eterna (Lc 9, 11b-17).
NOSSA CATEQUESE
A celebração litúrgica da solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo é de certa forma a atualização do testamento que Cristo deixa aos seus apóstolos. É memorizar a doação mais preciosa que alguém possa realizar a outrem. É uma celebração que tem raízes profundas na piedade do povo cristão, por isso “Toda explicação teológica que queira penetrar de algum modo neste mistério, para estar de acordo com a fé católica, deve assegurar que na sua realidade objetiva, independente de nosso entendimento, o pão e o vinho deixaram de existir depois da consagração, de modo que, a partir desse momento, são o corpo e o sangue adoráveis do Senhor Jesus que estão realmente presentes diante de nós sob as espécies sacramentais do pão e do vinho” [4].
Cristo, que é Senhor do Universo, Onipresente e Onisciente, a Majestade Suprema, se esconde em um pedaço de pão e em pequena porção de vinho para alimentar e saciar a fome e sede espiritual de seus irmãos. E a eficácia do seu sacrifício se realiza na comunhão com Cristo e com os irmãos, quando somos assumidos por ele no Banquete Eucarístico, como ele mesmo insistiu: “Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós” [5].
Participando da Eucaristia de forma consciente e alimentados pela fé, celebramos o sacrifício do Cordeiro e unimo-nos à liturgia celeste, gritando com a multidão: “A salvação pertence ao nosso Deus, que está sentado no trono, e ao Cordeiro” [6]É preciso compreender e crer que: 1) Eucaristia é a atualização do mistério redentor de Cristo. 2) É ser inserido na comunhão eclesial pelas mãos de quem ter poder para nos congregar. 3) É antecipação da vitória sobre a morte pelos méritos de Cristo. 4) É ter coragem de sentar na mesma mesa, em comunhão com todos e sem distinção, para a festa da unidade. 5) É alimento necessário para fortalecer na caminhado para o Reino Celestial. 6) É ter a convicção que recebemos Cristo, mas também Cristo nos recebe, como uma inabitação mútua de Cristo e discípulo[7].
Para qualquer sugestão ou dúvida pode-se comunicar com o autor neste email:
mirandajosebarbosa@hotmail.com
[1] Lc 22, 14-20 e par.
[2] Adam, Adolf, O Ano Litúrgico, pp.167-168. Ed. Paulinas, 1983
[3] Suma Teológica III q 73 a 4
[4] Ecclesia de Eucharistia, n. 15
[5] Jo 6,53
[6] Ap 7,10
[7] Cf.Jo 15,4

(13 de Fevereiro de 2015) © Innovative Media Inc.

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