Santíssimos Corpo e Sangue
de Cristo. Ter a coragem de sentar na mesma mesa, em comunhão com todos e sem
distinção, para a festa da unidade.
Em nossa catequese no artigo anterior, continuando com o Tempo Comum,
refletíamos sobre a Santíssima Trindade. Neste vamos entrar no mistério
Eucarístico, onde Cristo permanece conosco como prometera no seu
testamento[1] aos apóstolos. O rito antigo da páscoa judaica assume, com
seu gesto, dimensões teológicas, agora não como simbólicas, mas como sinal que
perdurará até à parusia celestial, afirmando que seu sangue vai ser derramado e
seu corpo dado para remissão de todos.
UM POUCO DE HISTÓRIA DESTA SOLENIDADE
Temos vários comentários sobre a instituição desta solenidade. Vou me
deixar guiar um pouco por Adolf Adam, em sua obra O Ano Litúrgico[2],
para o enriquecimento da catequese. Ele descreve: A origem desta festa
que se celebra na quinta-feira posterior à festa da Santíssima Trindade deve
ser vista em conexão com a devoção ao Santíssimo Sacramento que desabrochou
poderosamente ao longo do século XII e na qual se realçava de maneira
particular a presença real do “Cristo todo” no pão consagrado.
A religiosa agostiniana Juliana Liège, no ano de 1209, com
repetidas vezes, teve visões onde se via o disco lunar contendo em seu centro
uma parte negra. A essa visão seatribuiu a necessidade de uma festa eucarística
no ciclo anual. Por insistência sua e de seus conselheiros espirituais, o bispo
Roberto de Liège introduziu a festa eucarística em sua diocese no ano de 1246.
Em 1264 o papa Urbano IV a instituiu em toda a Igreja. Pela bula Transiturus é
fundamentada a sua instituição como doutrina a ser celebrada em toda a Igreja
com o culto à Eucaristia enquanto sacrifício e refeição. Mas somente com o papa
Clemente V, durante o Concílio de Viena (1311-1312), voltando a insistir na
festa, a consolidou. Com o papa João XXII, em consonância com a bula Transiturus nos
Decretais Clementinos, tornou-a oficial com a denominação de Festum Ss. Corporis
Chisti. Numa visão mais consolidada teologicamente, o novo Missal
ampliou o título para “Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de
Cristo”. Os comentários sobre as Normas Universais sobre o Ano
Litúrgico e o Calendário afirmam: “A Festa do Corpo de Deus é também a festa
do Preciosíssimo Sangue, como se pode ver claramente a partir dos textos da
missa e do ofício da festa, bem como da bula de introdução de Urbano IV”.
São Tomás de Aquino[3] menciona o significado da Eucaristia sob um
tríplice aspecto contido nas orações presidenciais do missal: 1) do ponto de
vista do passado, enquanto memorial da Paixão de Cristo que foi verdadeiro
sacrifício; 2) do ponto de vista do presente, enquanto sacramento de nossa
unidade em Cristo e dos homens entre si; 3) do ponto de vista do futuro,
enquanto prefigurativo do “gozo da divindade”. Este tríplice significado está
expresso em palavras semelhantes nas orações presidenciais da missa do dia: “Neste
admirável sacramento, nos deixastes o memorial de vossa Paixão” (oração do
dia);“Concedei, ó Deus, à vossa Igreja os dons da unidade e da paz,
simbolizados pelo pão e pelo vinho que oferecemos na sagrada eucaristia” (oração
sobre as oferendas); “Dai-nos [...] possuir o gozo eterno da vossa
divindade, que já começamos a saborear na terra pela comunhão do vosso Corpo e
do vosso Sangue” (oração depois da comunhão). Também percebemos o
sentido eucarístico nos trechos dos evangelhos desta solenidade. No ano “A”
proclama-se o discurso da promessa eucarística do pão vivo que desceu
do céu (Jo 6, 51-59); no ano “B” relata-se a instituição do mistério
eucarístico na Ceia de Jesus, colocando o Corpo e o Sangue de Cristo em conexão
com sua Paixão (Mc 14,12-16.22-26); o ano “C” apresenta a multiplicação dos
pães, deixando transparecer o milagre do amor eucarístico que se multiplica
para alimentar o peregrino na caminhada para a vida eterna (Lc 9, 11b-17).
NOSSA CATEQUESE
A celebração litúrgica da solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de
Cristo é de certa forma a atualização do testamento que Cristo deixa aos seus
apóstolos. É memorizar a doação mais preciosa que alguém possa realizar a
outrem. É uma celebração que tem raízes profundas na piedade do povo cristão,
por isso “Toda explicação teológica que queira penetrar de algum modo
neste mistério, para estar de acordo com a fé católica, deve assegurar que na
sua realidade objetiva, independente de nosso entendimento, o pão e o vinho
deixaram de existir depois da consagração, de modo que, a partir desse momento,
são o corpo e o sangue adoráveis do Senhor Jesus que estão realmente presentes
diante de nós sob as espécies sacramentais do pão e do vinho” [4].
Cristo, que é Senhor do Universo, Onipresente e Onisciente, a Majestade
Suprema, se esconde em um pedaço de pão e em pequena porção de vinho para
alimentar e saciar a fome e sede espiritual de seus irmãos. E a eficácia do seu
sacrifício se realiza na comunhão com Cristo e com os irmãos, quando somos
assumidos por ele no Banquete Eucarístico, como ele mesmo insistiu: “Em
verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não
beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós” [5].
Participando da Eucaristia de forma consciente e alimentados pela fé,
celebramos o sacrifício do Cordeiro e unimo-nos à liturgia celeste, gritando
com a multidão: “A salvação pertence ao nosso Deus, que está sentado no
trono, e ao Cordeiro” [6]. É preciso compreender e crer
que: 1) Eucaristia é a atualização do mistério redentor de Cristo. 2) É ser
inserido na comunhão eclesial pelas mãos de quem ter poder para nos congregar.
3) É antecipação da vitória sobre a morte pelos méritos de Cristo. 4) É ter
coragem de sentar na mesma mesa, em comunhão com todos e sem distinção, para a
festa da unidade. 5) É alimento necessário para fortalecer na caminhado para o
Reino Celestial. 6) É ter a convicção que recebemos Cristo, mas também Cristo
nos recebe, como uma inabitação mútua de Cristo e discípulo[7].
Para qualquer sugestão ou dúvida pode-se comunicar com o autor neste
email:
mirandajosebarbosa@hotmail.com
[1] Lc 22, 14-20 e par.
[2] Adam, Adolf, O Ano Litúrgico, pp.167-168. Ed.
Paulinas, 1983
[3] Suma Teológica III q 73 a 4
[4] Ecclesia de Eucharistia, n. 15
[5] Jo 6,53
[6] Ap 7,10
[7] Cf.Jo 15,4
(13 de Fevereiro de 2015) ©
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