Crescer nas dificuldades
Um dos muitos benefícios que as dificuldades nos proporcionam é que elas nos ajudam a crescer. Isso já podíamos deduzi-lo das meditações anteriores, mas vale a pena focalizá-lo de modo particular.
É um fato evidente que não cresce aquele que fica detido num ritmo espiritual de simples manutenção das suas virtudes e qualidades. Não são poucos os homens parados que – como o equilibrista – se mantêm na corda bamba de uma “certa bondade”, mas não avançam um só passo. Os anos vão passando, eles continuam a ser bons, mas estão sempre na mesma. Na mesma aparentemente, porque a alma nunca pode “ficar na mesma”. Há um velho adágio cristão, cheio de sabedoria e experiência, que afirma que, na vida espiritual, “não avançar é retroceder”.
Todos conhecemos casos surpreendentes de retrocessos. Por exemplo, aquela pessoa que, tendo oferecido durante longo tempo uma imagem de honestidade e bondade, de repente nos choca com uma virada completamente inesperada. Um pai que, sem motivo aparente, larga a família; um profissional íntegro que um dia amanhece incrivelmente envolvido num desfalque; uma pessoa religiosa, católica praticante e atuante, que subitamente mergulha numa crise e abandona a fé…
Nesses casos, tudo parece indicar que houve um afundamento repentino e inexplicável. Mas a experiência da vida nos diz que, na maior parte das vezes, não foi assim. O que aconteceu foi que essas pessoas se conformaram com um espírito de “simples manutenção”, com ir levando as coisas sem um impulso de crescimento. Já fazia anos, talvez, que se arrastavam numa rotina sem vida, e essa rotina – como água fina que penetra pelas rachaduras de uma casa – foi desgastando a bondade e esvaziando as virtudes. Tal como na vida do corpo, a falta de renovação trouxe a necrose.
Este processo de deterioração provocado pela rotina observa-se, com muita frequência, na gênese de boa parte dos problemas familiares. Podemos pensar numa família estável, bem constituída, em que pais e filhos se mantêm unidos pelos laços do carinho. É claro que, por melhor que seja o ambiente familiar, não faltam as dificuldades. Talvez sejam apenas as corriqueiras, mas, por serem muitas vezes repetidas, podem ir empanando insensivelmente o afeto, recobrindo de ferrugem invisível as boas vontades e as boas disposições.
Então, à medida que o tempo passa, os atritos podem tornar-se mais frequentes, a impaciência – provocada por minúcias insignificantes – mais áspera e repetida, e o mau humor vai ganhando terreno no relacionamento familiar. Certamente, não deixará de haver momentos em que os defeitos de um ou de outro se acentuem, e então a irritação poderá tornar-se explosiva. Bem sabemos como uma reação brusca – um comentário ríspido, um surto de ira, uma crítica ferina – costuma provocar outra reação mais brusca ainda, e assim acaba-se dando origem a uma reação em cadeia de mágoas, acusações, decepções e desentendimentos capaz de desandar para um desfecho catastrófico.
A recusa de crescer
Caso nos perguntemos o que houve num processo deste tipo, possivelmente a primeira resposta que nos venha ao pensamento seja: houve dificuldades, uma chuva de pequenas dificuldades, uma poeira desgastante e insuportável de dificuldades.
No entanto, a resposta verdadeira é outra. O que houve foi uma recusa do dever moral de crescer. Na realidade, cada pequena dificuldade estava pedindo um pouco mais: um pouco mais de paciência, um pouco mais de generosidade, um pouco mais de abnegação e esquecimento próprio, um pouco mais de humildade… Cada dificuldade era um apelo para se crescer em algum aspecto de uma virtude, mas o coração estava acomodado e não foi capaz de dar esse algo mais.
Cada dificuldade, grande ou pequena, indica, por assim dizer, o tipo de crescimento espiritual que Deus espera de nós. Quando lutamos por superá-la, isto é, por estar à altura daquilo que a dificuldade nos exige – esse “pouco mais” de que falamos –, estamos dando um passo à frente e subimos até um nível de maturidade adequado que nos deixa em condições não só de evitar o desgaste, mas de nos tornarmos melhores.
Cristão normal – ou seja, aquele que tem energias para viver moralmente bem – é o que consegue dar, ajudado por Deus, a resposta certa, com um novo ato de virtude, a cada nova situação que aparece: resposta de fé, ou de amor, ou de fortaleza, ou de sacrifício.
Se, em vez disso, permanece na manutenção rotineira dos seus hábitos, recusando-se a dar mais de si quando as circunstâncias lhe pedem maior virtude, ficará como que achatado e sem forças. Irá ficando “por baixo” dessas circunstâncias, moralmente defasado e, por isso mesmo, incapaz de dar uma resposta à altura do que é preciso. É natural que acabe sucumbindo. Aqui se encontra, em resumo, a explicação de muitos inexplicáveis.
Adaptação de um trecho do livro de F. Faus, O valor das dificuldades
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