terça-feira, 15 de março de 2016

As marcas positivas do encontro entre o papa Francisco e o patriarca Kirill

Włodzimierz  Rędzioch  |  Zenit


Para a televisão bielorrussa foi um acontecimento histórico: em 9 de março, a televisão por satélite “Belarus 24” convidou os líderes da Igreja católica e da Igreja ortodoxa na Bielorrússia, Tadeusz Kondrusiewicz, metropolita de Minsk-Mohilev, e Pavel, metropolita de Minsk e Zaslawe, para comentar o encontro entre o papa Francisco e o patriarca Kirill.
É positivamente impactante que este primeiro encontro católico-ortodoxo em um estúdio de televisão tenha ocorrido menos de um mês após o encontro do papa e do patriarca: é uma mostra de quanto esse impulso contribuiu para o desenvolvimento das boa relações ecumênicas na Bielorrússia.
Conversamos com o arcebispo Kondrusiewicz e lhe pedimos que comentasse sobre o seu encontro com o metropolita Pavel.

ZENIT: Sua Excelência se encontrou pela primeira vez com o metropolita ortodoxo da Bielorrússia em um estúdio de TV diante de milhares de espectadores. Este é o primeiro fruto do encontro histórico entre o papa Francisco e o patriarca Kirill em Cuba?
Dom Tadeusz Kondrusiewicz: As relações entre as nossas Igrejas são boas, mas nunca tínhamos estado juntos na televisão diante de um grande público. Estou muito satisfeito de que tenha acontecido esse encontro. Posso dizer que é “o fruto bielorrusso” daquele encontro histórico em Havana. Existem na Bielorrússia muitas famílias mistas católico-ortodoxas. Por isso as pessoas ficam felizes quando veem lado a lado os representantes das duas Igrejas irmãs. Para mim, o abraço entre o papa e o patriarca de Moscou se torna um símbolo, como se tivessem se abraçado os apóstolos Pedro e André.
ZENIT: O que foi conversado diante dos espectadores bielorrussos?
Dom Tadeusz Kondrusiewicz: Durante o programa, nós respondemos às perguntas do jornalista. A primeira foi sobre o lugar de encontro do papa e do patriarca: por que Cuba? Sabemos que todos gostariam de sediar uma reunião dessas, inclusive a Bielorrússia, que está aguardando a visita do Santo Padre. Em todo caso, nós respondemos que Cuba representa o continente, que não é responsável pelas divisões da cristandade. E é um país católico, que mantém boas relações com a Rússia e, portanto, com a Igreja ortodoxa. Além disso, houve a oportunidade, já que o patriarca e o papa estavam no mesmo período na América Latina. Enfatizamos o fato de que, nesse momento histórico, independentemente das questões controversas ainda pendentes, Francisco e Kirill se encontraram e mostraram ao mundo que, apesar das divergências, é preciso empenhar-se no diálogo e desenvolver juntos programas de ação em face dos grandes problemas, como as perseguições contra os cristãos e os desafios do mundo secularizado. Nós concordamos que é necessária uma voz comum do papa e do patriarca quando se decide o destino do cristianismo, quando se contestam regras da moral, quando os cristãos são submetidos a novas perseguições: nesta situação, temos que defender juntos as raízes da nossa fé cristã. Foi dedicada muita atenção à situação na Europa como resultado dos fluxos de refugiados. Nós concordamos que devemos ajudá-los, mas também que já deveriam ter sido feitos todos os esforços possíveis para resolver os graves problemas enfrentados pelos seus países de procedência. O papa e o patriarca escreveram, na sua declaração, que os ortodoxos e os católicos devem aprender a dar testemunho comum da verdade nos âmbitos em que isto é possível e necessário. A civilização humana entrou em um período de mudanças históricas. A nossa consciência cristã e a nossa responsabilidade pastoral que não nos autorizam a ficar inertes em face dos desafios que exigem uma resposta comum.
ZENIT: Quais são os desafios que deveríamos enfrentamos juntos, católicos e ortodoxos? É possível fazê-lo?
Dom Tadeusz Kondrusiewicz: Esta é uma declaração fundamental, porque mostra um senso de responsabilidade compartilhada pelo destino do cristianismo e das pessoas que são confiadas a nós, pastores. Os desafios são muitíssimos. Em primeiro lugar, o problema da secularização do mundo moderno, em que muitas pessoas vivem como se Deus não existisse. Além disso, problemas urgentes são a crise da família, a preservação do dom da vida concedido por Deus, a educação cristã dos jovens, o respeito à lei de Deus, a luta contra a corrupção e a injustiça social, e assim por diante. Estas são áreas em que podemos e devemos trabalhar juntos. A prática do diálogo ecumênico na Bielorrússia mostra que essa cooperação é possível e dá bons frutos. Temos muitos programas de caridade em conjunto, ajudando os que precisam de assistência independentemente da sua religião e nacionalidade. Temos um programa comum de luta contra as drogas, que se insinuam na nossa sociedade. Gerimos juntos alguns centros de aconselhamento nas clínicas em que é praticada a interrupção voluntária da gravidez, e, graças a isto, já salvamos centenas de crianças. Nós ajudamos uns aos outros na preparação de especialistas nos campos da família, da catequese e da teologia. O campo de ação é grande, e hoje, depois do encontro de Havana, criou-se um novo clima nas nossas relações, que definitivamente saberemos aproveitar.
ZENIT: Após o encontro em Havana, houve críticas de alguns que diziam que os ortodoxos o estavam usando para fins políticos. Como responder a essas acusações?
Dom Tadeusz Kondrusiewicz: A Igreja não é deste mundo, mas está no mundo e sua tarefa envolve também a pregação da doutrina social. O foco da Igreja é o homem. Tanto a Igreja católica quanto a ortodoxa devem servir ao homem. Eu estou bem longe de pensar que o encontro de Havana possa ser considerado meramente “político”. Foi principalmente um encontro de duas pessoas que estão preocupadas com o destino do cristianismo e do mundo. Rezo para que a declaração conjunta se realize plenamente.
ZENIT: Depois de Havana, Minsk? O papa vai visitar a Bielorrússia?
Dom Tadeusz Kondrusiewicz: No Oriente, nessas circunstâncias, dizem que as palavras pronunciadas têm que encontrar o seu caminho no ouvido de Deus, porque tudo está em Suas mãos. Nós temos que orar. Mas, hoje, a situação entre nós é qualitativamente nova: católicos e ortodoxos se veem como irmãos que apoiam uns aos outros. É por isso que eu estou convencido de que a visita do papa à Bielorrússia é mais possível do que nunca.

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