O Tempo Pascal não pode ficar somente na celebração litúrgica. É preciso que o memorial seja vivido no templo de cada batizado.
ENTENDENDO O TEMPO PASCAL
A liturgia cristã assimilou muito as festas judaicas. Sabemos que o começo do cristianismo estava impregnado das tradições judaicas. As sinagogas eram lugar das orações dos cristãos[2]. Assim temos a festa de Pentecostes (cinquenta dias) que os judeus celebravam depois da páscoa (judaica), também chamada Festa das Tendas,em ação de graças pela colheita. Também chamada das primícias da colheita do trigo. A festa é calculada pela contagem de sete semanas, desde o começo da colheita do trigo, e é um dia de observância sabática[3]. O começo da colheita do trigo coincide com a festa dos Ázimos (páscoa judaica).
Os cristãos, desde o começo, celebravam o mistério pascal de Cristo na ação de graças e na alegria, não só no Tríduo Pascal (ver artigo Tríduo Pascal), como também nas sete semanas, ou cinquenta dias que lhe sucedem.
Essa tradição foi conservada na Igreja desde o começo. Àqueles que desejavam reduzir o período para quarenta dias (Quadragesimum, no latim quarenta), o Concilio de Elvira se opõe, defendendo como Pentecostes (cinquenta no grego). Como mencionamos acima, encontramos na celebração judaica, Festa das Semanas, cinquenta dias depois da dos Pães Ázimos, a referência para a festa cristã. Foi justamente nesta festa judaica (Pentecostes) que se operou a efusão do Espírito Santo[4], manifestação universal da Igreja,que deve ser considerado como verdadeiro fruto do mistério pascal. Mas não esqueçamos que no próprio dia da Ressurreição Cristo encheu seus discípulos com o Espírito Santo[5].
Adolf Adam assim nos descreve sobre esta celebração litúrgica: “Este período de Pentecostes era marcado, liturgicamente, pela alegria e pela ação de graças, que exprimiam, entre outros, no aleluia repetido com frequência e na proibição de jejuar e de rezar de joelhos (cf. Concílio de Nicéia, cân 20, KIRCH, 243)”. As novas Normas Universais sobre o Ano Litúrgico e o Calendário assentam, portanto, no terreno firme da mais antiga tradição, quando estabelece: ‘Os cinquenta dias entre a Ressurreição e o domingo de Pentecostes sejam celebrados... como se fossem um só dia de festa, ou melhor, como um grande domingo’ (nº 22). A prescrição de acender o círio pascal como símbolo do Senhor ressuscitado, durante os cinquenta dias, junto do altar e diante da comunidade, durante as celebrações litúrgicas, mesmo nos dias feriais, e uma expressão simbólica desta atmosfera festiva[6].
NOSSA CATEQUESE
Entrando no espírito histórico da Liturgia, ela quer, não só atualizar o mistério salvífico em Cristo, mas ensinar que este evento perdura na história. O período celebrado após a Ressurreição, como um único acontecimento, tem a sua pedagogia da permanência de Cristo, entre os discípulos, para confirmá-los na fé, fortalecer a unidade e preparar o grande momento da manifestação da Igreja, no Pentecostes. Como as próprias normas litúrgicas colocam, constitui um único dia, um único evento.
As catequeses mistagógicas dos Padres da Igreja, neste período, eramdestinadas à condução dos neófitos ao mistério do Cristo ressuscitado. As cinco catequeses mistagógicas, da 19ª à 24ª, do Bispo Cirilo de Jerusalém, são acrescentadas para os recém-batizados durante a semana pascal após o batismo na noite de Páscoa. Tratam dos temas que, antes do batismo, para os candidatos, estavam submetidos à disciplina do arcano, isto é, explicação dos ritos do próprio batismo e da confirmação, bem como da eucaristia na celebração da missa. São João Crisóstomo, na defesa da fé contra as heresias, formaliza sua catequese mistagógica para o período pascal, insistindo sobre s perseverança dos catecúmenos nos mistérios celebrados no Tríduo Pascal.
Hoje, pela fé, vemos nestas sete semanas após a Ressurreição do Senhor, oportunidade para rever nosso batismo, dar vida na participação eucarística, confirmar nossa fé. Os adultos podem, numa atitude de ratificação da sua iniciação cristã, rever sua inserção na vida familiar, na Igreja e na sua profissão.
Podemos, também, repensar como está o comprometimento na moral cristã. Nos valores morais como meios de comunicar a verdade evangélica. Fazer despertar a fé recebida no Batismo, testemunhando de forma ininterrupta e concreta que Cristo ressuscitou para destruir o pecado, produto da mentira e gerador da miséria.
O grande mal que se espalha no mundo atual é o da covardia da fé. Omitimo-nos diante do pecado institucionalizado. São Pedro dissera às autoridades do Sinédrio que “é preciso obedecer antes a Deus do que aos homens” [7]. E hoje a família e a Igreja são atacadas de forma mentirosa, inclusive tentando negar a vocação primeira da família que o Criador lhe deu, como vemos no gesto criador de Deus[8].
O Tempo Pascal não pode ficar somente na celebração litúrgica. É preciso que o memorial seja vivido no templo de cada batizado. Cada dia desse Tempo é o dia da Ressurreição, com a derrota da mentira, da covardia, das trevas. Sete semanas, sete momentos de encontro com a vitória, com a Igreja, com a comunidade.
[1] Cf. Jo 12, 47-50
[2][2][2] Cf. At 3, 1-10
[3] Cf. Lv 23, 15-21; Nm 28, 26-31; Dt 16, 9-12
[4] At 2, 1ss
[5] Jo 20,22
[6] Adolf Adam, O Ano Litúrgico, Paulinas 1983, p. 86
[7] At 5,29
[8] Gn 1,27-28
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