Evangelho do dia (Lc 24,35-48):
Naquele tempo, 35os dois discípulos contaram o que tinha acontecido no caminho, e como tinham reconhecido Jesus ao partir o pão. 36Ainda estavam falando, quando o próprio Jesus apareceu no meio deles e lhes disse: “A paz esteja convosco!”
37Eles ficaram assustados e cheios de medo, pensando que estavam vendo um fantasma. 38Mas Jesus disse: “Por que estais preocupados, e por que tendes dúvidas no coração? 39Vede minhas mãos e meus pés: sou eu mesmo! Tocai em mim e vede! Um fantasma não tem carne, nem ossos, como estais vendo que eu tenho”.
40E, dizendo isso, Jesus mostrou-lhes as mãos e os pés.
41Mas eles ainda não podiam acreditar, porque estavam muito alegres e surpresos. Então Jesus disse: “Tendes aqui alguma coisa para comer?” 42Deram-lhe um pedaço de peixe assado. 43Ele o tomou e comeu diante deles.
44Depois disse-lhes: “São estas as coisas que vos falei quando ainda estava convosco: era preciso que se cumprisse tudo o que está escrito sobre mim na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos”.
45Então Jesus abriu a inteligência dos discípulos para entenderem as Escrituras, 46e lhes disse: “Assim está escrito: ‘O Cristo sofrerá e ressuscitará dos mortos ao terceiro dia, 47e no seu nome serão anunciados a conversão e o perdão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém’. 48Vós sereis testemunhas de tudo isso”.
Homilia:
Cristo realmente ressuscitou!
3° Domingo do Tempo Pascal – Ano B
O Pe. Raniero Cantalamessa – pregador da Casa Pontifícia – relata, em um de seus livros, o seguinte episódio:
Os ortodoxos, durante o Tempo Pascal, quando se encontram pelas ruas, usam a seguinte saudação: “Cristo ressuscitou!” – ao que se responde: “Realmente ressuscitou!”.
Pois bem, durante a revolução russa foi organizado um debate público sobre a ressurreição de Cristo, na tentativa do partido comunista de convencer os cristãos a abandonarem a fé. Foi escolhido um comunista ateu para abrir o debate. O mesmo falou eloquentemente e considerou por certo que seus argumentos colocariam por terra quaisquer resquícios de fé na ressurreição. Depois dele, foi chamado ao microfone um padre ortodoxo, com a missão de defender o dogma da ressurreição. Os olhos estavam todos voltados para ele. Como ele derrubaria a brilhante argumentação do ateu? O sacerdote olhou para o povo reunido, e saudou a todos dizendo: “Cristo ressuscitou!”. O povo, em massa, respondeu: “Realmente ressuscitou!”. Ao escutar essa resposta, o padre deixou o microfone. Tinha terminado sua argumentação.
Ouvindo os ecos da boa nova da Páscoa, hoje a liturgia continua anunciando: “Vós matastes o autor da vida, mas Deus o ressuscitou dos mortos, e disso nós somos testemunhas” (At 3,15) e “O Cristo sofrerá e ressuscitará dos mortos ao terceiro dia” (Lc 24,46). Ainda que seja o cerne da fé cristã, não são poucos os “cristãos” que questionam a verdade da ressurreição. “Como podem alguns dentre vós dizer que não há ressurreição dos mortos? Se não há ressurreição dos mortos, também Cristo não ressuscitou. E se Cristo não ressuscitou, vazia é a nossa pregação, vazia é também a vossa fé. Mas não! Cristo ressuscitou dos mortos, como primícias dos que adormeceram” (1Cor 15,12-14.20).
Mas fará alguma diferença aceitar a ressurreição de Cristo – e, por extensão, a ressurreição de todos os que fazemos parte de Seu Corpo?
Sim. Faz toda a diferença. Considerar a morte como páscoa (passagem) para a vida eterna nos coloca numa perspectiva tal que nos faz repensar os atos da vida presente:
Se acreditamos que tudo acaba com a morte, tudo o que nos resta é o tempo presente – pois o passado não tem mais significado e o futuro é imprevisível. Ora, se o que conta é somente o tempo presente, então porque é que alguém se submeterá a quaisquer privações, seja do que for lícito, seja do que for ilícito? Citando Dostoievski, “Se Deus está morto, então tudo é permitido”.
Agora, se creio na ressurreição da carne – como logo mais professaremos no credo, então tanto o passado quando o presente têm valor de eternidade. Existe, nesse caso, um porquê que sustenta meus procedimentos, minha forma de pensar, meus sentimentos, minhas esperanças. Podemos dizer como o salmista de hoje: “Eu tranquilo vou deitar-me e na paz logo adormeço, pois só vós, ó Senhor Deus, dais segurança à minha vida!” (Sl 4).
É bastante simples dizer “O Senhor ressuscitou! Realmente ressuscitou!”. Mas quando observamos na nossa vida todo tipo de permissivismo, o tranquilo convívio com o pecado da fornicação, de práticas antinaturais, de desonestidades, de “dar um jeitinho” em tudo, de “aproveitar a vida” (no sentido corrente da expressão), de vingança, de fofoca e maledicência e outras tantas formas não cristãs de conduta, é hora de nos perguntarmos seriamente: Creio no inferno? Creio na ressurreição? Creio no céu? Creio mesmo? Se creio, vou esperar para mudar de vida até quando? Agora, se não creio, pois “viva a liberdade”. Que cesse a encenação para mim mesmo. Não são as aparências de uma “vida de fé” que me garantirão o céu.
É hora de sair do torpor. É hora de vivermos como criaturas novas! Cristo ressuscitou! Realmente ressuscitou!
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