Evangelho do dia (Jo 10,11-18):
Homilia:
Naquele tempo, disse Jesus: 11“Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida por suas ovelhas. 12O mercenário, que não é pastor e não é dono das ovelhas, vê o lobo chegar, abandona as ovelhas e foge, e o lobo as ataca e dispersa. 13Pois ele é apenas um mercenário que não se importa com as ovelhas.
14Eu sou o bom pastor. Conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem, 15assim como o Pai me conhece e eu conheço o Pai. Eu dou minha vida pelas ovelhas.
16Tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil: também a elas devo conduzir; elas escutarão a minha voz, e haverá um só rebanho e um só pastor.
17É por isso que meu Pai me ama, porque dou a minha vida, para depois recebê-la novamente. 18Ninguém tira a minha vida, eu a dou por mim mesmo; tenho poder de entregá-la e tenho poder de recebê-la novamente; essa é a ordem que recebi de meu Pai”.
Homilia:
Eu sou o bom pastor
4° Domingo do Tempo Pascal – Ano B 2015
“Como é fácil para os poucos controlarem os muitos. Nós rimos das ovelhas, porque elas só seguem quem está na frente. “– Ovelha burra!”. Mas os humanos superam as ovelhas em serem ovelhas, porque as ovelhas precisam de um cão pastor para serem mantidas na linha. Já os humanos mantém a si mesmos sob controle” (David Icke – ainda que suas teorias da conspiração não possam ser levadas a sério, esse pensamento seu tem um fundo de verdade!).
Temos vivido em tempos de grande discussão sobre a função e a conduta daqueles que ocupam cargos de poder em nosso município, nosso estado e nosso país. Quis a Divina Providência, através da Liturgia, iluminar-nos com a Palavra de Deus sobre essas realidades: Jesus diz de Si “Eu sou o bom pastor”. A figura do pastor era atribuída, no mundo antigo, não somente à pessoa que cuidava de um rebanho, mas também a quem exercia algum cargo de chefia familiar, civil ou religiosa. Infelizmente muitas das experiências do povo de Deus em relação aos seus pastores não eram positivas: “Assim diz o Senhor Deus aos pastores: Ai dos pastores de Israel que se apascentam a si mesmos! Acaso os pastores não devem apascentar as ovelhas? Bebei de seu leite, vestis sua lã e sacrificais os animais gordos, mas não apascentais as ovelhas. Não fortalecestes a ovelha fraca, não curastes a ovelha doente nem enfaixastes a ovelha quebrada. Não trouxestes de volta a ovelha desgarrada, não procurastes a ovelha perdida, mas as dominastes com dureza e brutalidade” (Ez 34,2-4).No tempo de Jesus – bem como antes e depois – a relação pastor-rebanho não raramente era uma relação de dominação e de exploração. E o Senhor, com muita lucidez, reconhece essa classe de pessoas (pastores que exploram as ovelhas ao invés de apascentá-las) como mercenárias. Aqui vale uma contextualização: o pastor era o principal responsável pelo rebanho (podia ser o donodo rebanho ou alguém de confiança deste); o mercenário era alguém contratado pelo dono do rebanho, com a função de porteiro do redil. Este mercenário não tinha maior envolvimento com o rebanho; estava ali pelo dinheiro. Em caso de perigo (ladrões ou lobos), ele fugia, pois não arriscava a vida pelas ovelhas. Mercenários, portanto, são os que desempenham funções de chefia – de novo: familiar, civil ou religiosa – não por amor às ovelhas, mas pelo que se ganha em troca do seu “cuidado”.
E por que Jesus se apropria de uma imagem tão controvertida como a do pastor para identificar-se? Não teme Ele que chamar-nos de ovelhas fira nossa sensibilidade e ofenda nossa dignidade de homens livres? A resposta é que, não obstante todos os abusos humanos, Deus jamais renunciou ao título de pastor, como nunca renunciou ao título de pai ou de rei. Em Jesus cumpre-se a profecia de Ezequiel: “Eis que eu mesmo buscarei minhas ovelhas e tomarei conta delas. [...] Irei visitar minhas ovelhas e as resgatarei de todos os lugares em que foram dispersadas em dia de nuvens e de escuridão. [...] Eu mesmo apascentarei minhas ovelhas e as farei repousar. [...] Vou apascentá-las conforme o direito” (34,11.15-16).
Jesus, vindo ao mundo, se apresentou como esse pastor prometido por Deus, com todas as suas características: Ele conhece e ama suas ovelhas; as chama pelo nome; para Ele elas não são um número, mas pessoas, amigas. Ele as apascenta, as defende, dá-lhes – e não lhes tira – a vida; vai em busca da que está perdida; cura a que está ferida. É a antítese perfeita do mercenário. “Vós me chamais de Mestre, e fazeis bem; mas eu, Mestre, vos lavei os pés” (Jo 13,13ss); “Eu não vim para ser servido, mas para servir” (Mt 20,28), ou seja, não vim para ser apascentado, mas para apascentar. Por isso, no Evangelho de João, a figura do bom pastor é completada com aquela do Cordeiro que dá a vida para tirar o pecado do mundo (cf. Jo 1,29). “O Cordeiro que está no trono será seu pastor e os guiará às fontes de água viva” (Ap 7,17).
Sob os cuidados de tal pastor não é humilhante ser ovelha, mas é salvação! Tendo sido Ele próprio conduzido ao matadouro e dado a vida para nos alimentar, nós cristãos não temos nenhum medo e nenhum complexo por sermos chamados a aceitar ser o rebanho que Ele conduz.
Ainda que o homem moderno rechace o papel de “ovelha”, nem sempre se dá conta de que é guiado por todo tipo de manipulação e de persuasão oculta. Outros criam modelos de bem-estar e de comportamento, ideais e objetivos de “progresso”, e nós seguimos, vamos atrás, com medo de “perder o passo”. Comemos o que nos mandam comer, vestimos o que nos mandam vestir, pensamos o que nos mandam pensar. “Como as ovelhas saem do seu curral [...] e aquilo que faz a primeira as outras fazem [...], simples e quietas, e o porquê não sabem” (Dante, Purg. III, 79ss).
Cristo nos propõe fazer com Ele uma experiência de libertação. Onde está o Espírito do Senhor Jesus, ali está a liberdade (cf. 2Cor 3,17), ali emerge a pessoa com sua irrepetível riqueza e com seu verdadeiro destino; emerge o filho de Deus ainda escondido (cf. 2a leitura). “Quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8,12); e quem caminha na luz sabe distinguir as coisas, os valores, sabe distinguir as sombras da realidade.
“Minhas ovelhas escutam a minha voz, eu as conheço e elas me seguem” (Jo 10,4.16). A escolha é de cada um: seguir o Bom Pastor, que conduz à liberdade e à plena realização ou seguir outras vozes que nos tosquiam, carneiam e ordenham. Que o Espírito Santo nos dê o dom do discernimento, e Santa Maria, sede da Sabedoria, interceda por nós. amém.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Acesse nosso programa semanal de rádio na Rádio Comunitária Caiense, das 12h30min às 14 horas e viva momentos de oração e alegria. A Rádio Comunitária Caiense fica na frequência 87.5 e você pode acessar o programa pelo computador, no site http://www.rcc.fm.br/! Esperamos você! Entre em contato pelo telefone também: (51) 3635-3152.