Cardeal
Müller, Dom Negri, Dom Melina e Constance Miriano juntos na mesa redonda
organizada pela Universidade para falar sobre família, fé e matrimônio
Por Massimo Nardi
ROMA, 22 de Outubro de 2014 (Zenit.org) - A
primeira fase do Sínodo terminou e agora é o momento das reflexões pós-sinodal,
cuja tarefa é traduzir no tecido vivo da comunidade dos fiéis as instancias que
emergiram durante a assembleia religiosa.
Testemunho da fecundidade das idéias que
emergiram do Sínodo foi a mesa redonda "A esperança da família - O Sínodo
e depois", realizada em 21 de outubro, na UER- Universidade Europeia de
Roma-, no âmbito dos encontros organizados pelos "Círculos Culturais João
Paulo II".
A mesa redonda foi introduzida por Antonio
Gaspari, diretor editorial de Zenit, que, após as saudações habituais,
apresentou os renomados palestrantes: Cardeal Gerhard Ludwig Müller, prefeito
da Congregação para a Doutrina da Fé; Dom Luigi Negri, Arcebispo de
Ferrara-Comacchio, presidente da Fundação Internacional João Paulo II para o
Magistério da Igreja; Dom Livio Melina, presidente do Pontifício Instituto João
Paulo II para Estudos sobre Matrimônio e a Família. A única presença leiga
feminina foi Miriano Constance, jornalista e escritora.
O encontro nasceu do livro-entrevista com o
Cardeal Müller, intitulado "A esperança da família", publicado pela
Edizioni Ares, que vai além da necessidade de esclarecer mal-entendidos que
rodearam o Sínodo.
"Um dos pontos centrais do texto –
explicou o cardeal - é o tema da Fé. Vivemos em uma época de secularismo e
incredulidade que têm enfraquecido a noção sacramental." O cardeal citou a
encíclica Lumen Fidei do Papa Francisco, dedicada ao tema da Fé e a
Constituição Pastoral Gaudium et Spes, um dos documentos mais importantes do
Concílio Vaticano II, que trata, entre outras coisas, da questão da dignidade
do matrimônio e da família.
O cardeal leu uma passagem do prefácio de
seu livro, escrito pelo Cardeal Fernando Sebastián: "No sacramento do
matrimônio os fiéis cristãos, homens e mulheres, celebram com a Igreja a fé no
amor de Deus presente e operante neles como membros da Igreja e colaboradores
de Deus na multiplicação da humanidade e da Igreja de salvação."
Ao intervir, a jornalista Constance Miriano
começou com uma afirmação relacionada à sua experiência como mãe e suas crenças
católicas: "Tudo bem misericórdia para com os divorciados, mas é preciso
dá-la também às crianças. Deles se fala pouco, mas são as primeiras vítimas
quando os pais seguem caminhos diferentes."
A escritora explicou que a sua atividade a
leva a encontrar muitas famílias, e isso reforçou sua crença de que "a
moral cristã não é comparável a burguesa"; esta última constrói sua
"catequese" baseada em modelos de televisão e filme: modelos que
geram decepção. "O verdadeiro amor é fundado em Cristo e a
'realfabetização' do amor pertence à Igreja."
Depois, tomou a palavra Dom Melina, que
agradeceu Müller pelo livro e pela coragem que demonstrou, e lembrou um
conceito do bem-aventurado Papa Paulo VI: a Igreja não inventa sua doutrina,
mas é sua intérprete e guardiã. "A quem nos chama a reconsiderar os
princípios da fé para torná-la mais adaptável aos nossos tempos - disse o
prelado - a Igreja só pode responder: "Non possumus”. "Nós não
podemos!"
"O Cardeal Müller- continuou-
argumenta o vínculo indissociável entre a verdade e a prática. A doutrina se
tornaria abstrata e prática arbitrária, se a Igreja fizesse a temporada de
desconto”. "A misericórdia não pode ser uma ferramenta para resolver as
dificuldades contingentes: os pais se preocupam em educar, mesmo que às vezes
obrigados a dizer coisas que, naquele momento, não agradam os filhos”.
Dom Luigi Negri agradeceu ao cardeal pelo
livro, que descreveu como "sugestivo e propositivo para o futuro”. "A
crise do nosso tempo - disse - coincide com a crise da família, que expressa a
crise do homem contemporâneo: A fragmentação inexorável da vida num contexto de
conflitos de opinião. Diminuindo o empenho do homem contra seus instintos, a
realidade é reduzida a um conjunto de objetos manipulados de acordo com as
regras de natureza tecnológica, desaparecendo o sentido do mistério". O
bispo citou o filósofo Jacques Maritain, segundo o qual "a modernidade é a
luta desmotivada e ideológica entre a razão e o mistério."
Dom Negri continuou, afirmando que o
"novo" de hoje é baseado em um conceito já falido, em uma revolução
antropológica que, tendo demonstrado a sua inconsistência, não pode ser tomado
como uma ferramenta para a inovação. No livro de Müller, a experiência do
matrimônio é, ao invés, uma autêntica experiência de vida nova, onde o amor
cristão é a expressão de um amor humano baseado na “gratuidade" e não na
"conveniência" (e aqui Dom Negri citou Caritas in Veritate de Bento
XVI para um repensar do sistema econômico global).
"A semente de uma vida nova - concluiu
o Arcebispo de Ferrara - deve ser educada sobre a base da fé de acordo com o
pensamento de Deus e não do mundo. O futuro é nosso, na medida em que somos
capazes de ler a vocação cristã em sua profundidade."
Para finalizar a noite, o Reitor da
Universidade Luca Gallizia L.C expressou seu especial agradecimento por esta
oportunidade de reflexão: "Uma reflexão que vai continuar ao longo do ano.
Enquanto a nossa primeira tarefa continua sendo a oração a fim que o Espírito
Santo conduza a Igreja."
É
possível amar para sempre um príncipe de pantuflas e uma princesa maquiada?
Constanza
Miriano fala sobre o recente Sínodo e promove as oportunidades díspares...
Por Maria Gabriella Filippi
ROMA, 22 de Outubro de 2014 (Zenit.org) -
"O mundo tem as suas catequeses, que são mais poderosas que as da Igreja”
e passam por vários canais que nos falam de um amor romântico, de uma simbiose
de casais perfeitos... "Mas é possível amar para sempre um príncipe de
pantuflas e uma princesa maquiada?", disse Constanza Miriano durante o
encontro de ontem à noite sobre a esperança da família. O Sínodo e depois,
realizado na Universidade Europeia de Roma. À margem do encontro, a jornalista
e escritora respondeu a algumas perguntas de ZENIT sobre o resultado da
Assembleia sinodal – que ela acompanhou como jornalista para a RAI Vaticano –
e, no geral, sobreos problemas da família de hoje.
***
ZENIT: Como você viveu essas
semanas do Sínodo como jornalista e como mãe de família?
Constanza Miriano: Não tendo que prestar
contas do Sínodo diariamente, estou contente por ter ficado de fora dos
mecanismos jornalísticas, que, infelizmente, precisam de notícias, de exacerbar
as divisões, de ver tramas e conexões, mesmo onde não existem. Eu, na verdade,
até mais do que uma mãe, experimentei o Sínodo como um fiel, confiando na
sabedoria dos pastores da Igreja. Apesar de algumas preocupações pelas coisas
que ouvi, sempre faço o esforço de lembrar que, apesar de tudo, eles são os
pastores e são parte do rebanho. Se tivesse que trabalhar como Vaticanista
seria difícil manter esta atitude: eu, pelo contrário, para a Rai Vaticano,
lido com os especiais, as coisas que não estão ligadas com a atualidade,
portanto, pude manter este olhar de fiel. Estou certa de que a Igreja é guiada
pelo Espírito Santo e que não se perderá.
ZENIT: Houve questões que, na
sua opinião, poderiam ter sido tratadas mais a fundo?
Constanza Miriano: Como mãe, se eu tivesse
que fazer uma pequena observação, destacaria que se falou pouco das crianças,
não só do ponto de vista dos divorciados e recasados, mas também no geral;
também no discurso sobre casais homossexuais, acho que seja necessário virar a
questão do ponto de vista dos fracos, como faria Jesus. Também sobre a questão
do aborto, por vezes, nós, na Igreja, nos esquecemos de partir dos mais fracos,
das crianças antes do nascimento, não apenas os doentes e deficientes, mas
todas as crianças. Com mãe, espero que neste ano o tema da infância seja
trazido mais à luz, sem retórica, sem ‘pobres crianças’, mas com a consciência
de que elas são o futuro da Igreja e do mundo: se eu fosse um chefe de Estado
investiria antes de mais nada na escola, na formação.
Quanto à família, eu acho que hoje em dia,
uma assembleia extraordinária sobre família tenha que começar não tanto pelos
casos extremos como aqueles dos poucos divorciados recasados, que têm um caminho
de fé muito profundo e muitos deles (mas não todos) sofrem pela ausência da
comunhão. Parece-me que o grande tema da família de hoje seja, pelo contrário,
o significado verdadeiro do amor, oposto ao utilitarista do mundo: o amor
cristão se baseia em uma relação de amor com Cristo, que tem muito pouco de
emocional e nem sempre é gratificante. Assim, parece-me que um discurso útil
para famílias que continuam fiéis à sua labuta diária seja dizer: "Olha
que este esforço não é sinal de que tudo está errado, mas é a massa, a matéria
com que é feita a vida diária, de amor e da família”; “estamos contigo nesta
luta, te ajudamos a levar o peso por uma parte do caminho”, Acho que os
cristãos e os pastores tenham que fazer-se irmãos daqueles que se esforçam dizendo
que é um esforço bom e não um erro, um esforço que salva e nãoum acidente.
Todos se esforçam. A família do Moinho Branco, onde as coisas funcionam
sozinhas, não existe.
ZENIT: A mensagem da mídia
sobre as divisões e conflitos entre os Padres sinodais corresponde à realidade
dos fatos?
Constanza Miriano: Acho que os Padres
sinodais também são homens, portanto, certamente, às vezes, tem havido entre
eles a tentação de alimentar a rivalidade. Porém, acho que, como disseram
tantos e como já aconteceu para o Concílio Vaticano II, houve o que realmente
aconteceu e o que foi dito, ou seja, o Concílio Midiático, o Concílio de papel:
os jornalistas fazem o seu trabalho, mas nós temos que confiar, esperar e saber
que a última palavra virá do Papa que é o nosso pastor. Fiz um pouco de jejum
midiático, não li muito, não ‘cisquei’ nos sites nesses dias... me irrita
quando se fala de progressistas, daqueles que fazem propostas novas, de
acordos, de jesuítas de um lado e outros do outro. Em suma, não gosto e acho
que não faça bem para a Igreja.
ZENIT: Fala-se muito do óleo da
misericórdia nas feridas dos enfermos, da Igreja como “hospital de
campanha": qual é a sua experiência de misericórdia na família?
Constanza Miriano: Acho que o amor se
pareça muito com a misericórdia, ao perdoar-se mutuamente as próprias
imperfeições: enquanto um for homem e a outra mulher, e haja uma profunda
diferença e não sobreposição entre masculino e feminino, que a cultura do
gênero quer eliminar, mas que, pelo contrário, é uma diferença fortíssima.
Compreender, por exemplo, que a mulher tem necessidade de escuta enquanto o
homem está sobrecarregado por seu excesso de comunicação (o homem deve
perdoar-nos por não sermos capazes de calar a boca). Amar uma pessoa e uma
criatura significa perdoá-la milhares de vezes por ser assim tão limitada, tão
falaciosa... O amor é como a Cinderela, a abóbora e o beijo final: acho que, no
entanto, o amor entre marido e mulher se pareça com a misericórdia, a olhar com
um sorriso para a miséria do outro, e também para as nossas, obviamente, que
são diferentes, mas do mesmo peso.
ZENIT: Afastando-se do tema do
Sínodo, sabemos que em Roma, nos últimos dias, tem havido transcrição nos
registros municipais de uniões do mesmo sexo...
Constanza Miriano: Eu acho que é uma
lágrima contra a lei, mas também acho que seja necessário recomeçar dos
direitos das crianças, porque todos enchem a boca com a palavra "direitos
civis", mas acredito que os homossexuais já tenham a posse de todos esses
direitos que, com razão, lhes é negado. O que deve ser negada é a possibilidade
de adotar crianças ou até mesmo de comprá-las com barrigas de aluguel: isto não
é absolutamente um direito civil, porque vai contra o direito das crianças de
ter um pai homem e uma mãe mulher. Aqui é necessário combater com a própria
vida, mas não será necessário, espero que o bom senso vença.
ZENIT: Ouvindo falar de cotas
rosas, de incentivos às mulheres (agora as empresas estão dispostas a pagar
suas despesas para congelar óvulos e fazerem carreira), você, pelo contrário,
diz que é pelas “oportunidades díspares”...
Constanza Miriano: Eu acho que o
mundo do trabalho tenha regras de funcionamento a parte, totalmente masculinas,
e que nós mulheres, apesar de tanto feminismo, lutamos para entrar neste mundo
do trabalho, onde sofremos bastante porque, se queremos avançar no trabalho
temos que ‘amputar’ a nossa vida pessoal ou, em alternativa, fazer sofrer as
pessoas que nos foram confiadas; se, pelo contrário, queremos investir nas
pessoas queridas, temos que renunciar o trabalho (que pessoalmente eu
renunciaria também, mas nem sempre é possível fazê-lo, ou melhor, quase nunca).
Teremos que lutar para que o mundo do trabalho esteja na medida da mãe e da
mulher (embora mesmo as que não são mães sempre são mães daqueles que lhes
foram confiadas, porque assim está escrito no coração da mulher). Como sempre,
as batalhas feministas partem de uma exigência justa, mas logo em seguida
adotam lógicas masculinas e erram no objetivo, portanto, gostaria de buscar as
“oportunidade díspares” e adotar discriminações que estejam a nosso favor.
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