domingo, 28 de dezembro de 2014

"A esperança da família": reflexão pós-sinodal na Universidade Europeia

Cardeal Müller, Dom Negri, Dom Melina e Constance Miriano juntos na mesa redonda organizada pela Universidade para falar sobre família, fé e matrimônio
Por Massimo Nardi
ROMA, 22 de Outubro de 2014 (Zenit.org) - A primeira fase do Sínodo terminou e agora é o momento das reflexões pós-sinodal, cuja tarefa é traduzir no tecido vivo da comunidade dos fiéis as instancias que emergiram durante a assembleia religiosa.
Testemunho da fecundidade das idéias que emergiram do Sínodo foi a mesa redonda "A esperança da família - O Sínodo e depois", realizada em 21 de outubro, na UER- Universidade Europeia de Roma-, no âmbito dos encontros organizados pelos "Círculos Culturais João Paulo II".
A mesa redonda foi introduzida por Antonio Gaspari, diretor editorial de Zenit, que, após as saudações habituais, apresentou os renomados palestrantes: Cardeal Gerhard Ludwig Müller, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé; Dom Luigi Negri, Arcebispo de Ferrara-Comacchio, presidente da Fundação Internacional João Paulo II para o Magistério da Igreja; Dom Livio Melina, presidente do Pontifício Instituto João Paulo II para Estudos sobre Matrimônio e a Família. A única presença leiga feminina foi Miriano Constance, jornalista e escritora.
O encontro nasceu do livro-entrevista com o Cardeal Müller, intitulado "A esperança da família", publicado pela Edizioni Ares, que vai além da necessidade de esclarecer mal-entendidos que rodearam o Sínodo.
"Um dos pontos centrais do texto – explicou o cardeal - é o tema da Fé. Vivemos em uma época de secularismo e incredulidade que têm enfraquecido a noção sacramental." O cardeal citou a encíclica Lumen Fidei do Papa Francisco, dedicada ao tema da Fé e a Constituição Pastoral Gaudium et Spes, um dos documentos mais importantes do Concílio Vaticano II, que trata, entre outras coisas, da questão da dignidade do matrimônio e da família.

O cardeal leu uma passagem do prefácio de seu livro, escrito pelo Cardeal Fernando Sebastián: "No sacramento do matrimônio os fiéis cristãos, homens e mulheres, celebram com a Igreja a fé no amor de Deus presente e operante neles como membros da Igreja e colaboradores de Deus na multiplicação da humanidade e da Igreja de salvação."
Ao intervir, a jornalista Constance Miriano começou com uma afirmação relacionada à sua experiência como mãe e suas crenças católicas: "Tudo bem misericórdia para com os divorciados, mas é preciso dá-la também às crianças. Deles se fala pouco, mas são as primeiras vítimas quando os pais seguem caminhos diferentes."
A escritora explicou que a sua atividade a leva a encontrar muitas famílias, e isso reforçou sua crença de que "a moral cristã não é comparável a burguesa"; esta última constrói sua "catequese" baseada em modelos de televisão e filme: modelos que geram decepção. "O verdadeiro amor é fundado em Cristo e a 'realfabetização' do amor pertence à Igreja."
Depois, tomou a palavra Dom Melina, que agradeceu Müller pelo livro e pela coragem que demonstrou, e lembrou um conceito do bem-aventurado Papa Paulo VI: a Igreja não inventa sua doutrina, mas é sua intérprete e guardiã. "A quem nos chama a reconsiderar os princípios da fé para torná-la mais adaptável aos nossos tempos - disse o prelado - a Igreja só pode responder: "Non possumus”. "Nós não podemos!"
"O Cardeal Müller- continuou- argumenta o vínculo indissociável entre a verdade e a prática. A doutrina se tornaria abstrata e prática arbitrária, se a Igreja fizesse a temporada de desconto”. "A misericórdia não pode ser uma ferramenta para resolver as dificuldades contingentes: os pais se preocupam em educar, mesmo que às vezes obrigados a dizer coisas que, naquele momento, não agradam os filhos”.  
Dom Luigi Negri agradeceu ao cardeal pelo livro, que descreveu como "sugestivo e propositivo para o futuro”. "A crise do nosso tempo - disse - coincide com a crise da família, que expressa a crise do homem contemporâneo: A fragmentação inexorável da vida num contexto de conflitos de opinião. Diminuindo o empenho do homem contra seus instintos, a realidade é reduzida a um conjunto de objetos manipulados de acordo com as regras de natureza tecnológica, desaparecendo o sentido do mistério". O bispo citou o filósofo Jacques Maritain, segundo o qual "a modernidade é a luta desmotivada e ideológica entre a razão e o mistério."
Dom Negri continuou, afirmando que o "novo" de hoje é baseado em um conceito já falido, em uma revolução antropológica que, tendo demonstrado a sua inconsistência, não pode ser tomado como uma ferramenta para a inovação. No livro de Müller, a experiência do matrimônio é, ao invés, uma autêntica experiência de vida nova, onde o amor cristão é a expressão de um amor humano baseado na “gratuidade" e não na "conveniência" (e aqui Dom Negri citou Caritas in Veritate de Bento XVI para um repensar do sistema econômico global).
"A semente de uma vida nova - concluiu o Arcebispo de Ferrara - deve ser educada sobre a base da fé de acordo com o pensamento de Deus e não do mundo. O futuro é nosso, na medida em que somos capazes de ler a vocação cristã em sua profundidade."
Para finalizar a noite, o Reitor da Universidade Luca Gallizia L.C expressou seu especial agradecimento por esta oportunidade de reflexão: "Uma reflexão que vai continuar ao longo do ano. Enquanto a nossa primeira tarefa continua sendo a oração a fim que o Espírito Santo conduza a Igreja."
É possível amar para sempre um príncipe de pantuflas e uma princesa maquiada?
Constanza Miriano fala sobre o recente Sínodo e promove as oportunidades díspares...
Por Maria Gabriella Filippi
ROMA, 22 de Outubro de 2014 (Zenit.org) - "O mundo tem as suas catequeses, que são mais poderosas que as da Igreja” e passam por vários canais que nos falam de um amor romântico, de uma simbiose de casais perfeitos... "Mas é possível amar para sempre um príncipe de pantuflas e uma princesa maquiada?", disse Constanza Miriano durante o encontro de ontem à noite sobre a esperança da família. O Sínodo e depois, realizado na Universidade Europeia de Roma. À margem do encontro, a jornalista e escritora respondeu a algumas perguntas de ZENIT sobre o resultado da Assembleia sinodal – que ela acompanhou como jornalista para a RAI Vaticano – e, no geral, sobreos problemas da família de hoje.
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ZENIT: Como você viveu essas semanas do Sínodo como jornalista e como mãe de família?
Constanza Miriano: Não tendo que prestar contas do Sínodo diariamente, estou contente por ter ficado de fora dos mecanismos jornalísticas, que, infelizmente, precisam de notícias, de exacerbar as divisões, de ver tramas e conexões, mesmo onde não existem. Eu, na verdade, até mais do que uma mãe, experimentei o Sínodo como um fiel, confiando na sabedoria dos pastores da Igreja. Apesar de algumas preocupações pelas coisas que ouvi, sempre faço o esforço de lembrar que, apesar de tudo, eles são os pastores e são parte do rebanho. Se tivesse que trabalhar como Vaticanista seria difícil manter esta atitude: eu, pelo contrário, para a Rai Vaticano, lido com os especiais, as coisas que não estão ligadas com a atualidade, portanto, pude manter este olhar de fiel. Estou certa de que a Igreja é guiada pelo Espírito Santo e que não se perderá.
ZENIT: Houve questões que, na sua opinião, poderiam ter sido tratadas mais a fundo?
Constanza Miriano: Como mãe, se eu tivesse que fazer uma pequena observação, destacaria que se falou pouco das crianças, não só do ponto de vista dos divorciados e recasados, mas também no geral; também no discurso sobre casais homossexuais, acho que seja necessário virar a questão do ponto de vista dos fracos, como faria Jesus. Também sobre a questão do aborto, por vezes, nós, na Igreja, nos esquecemos de partir dos mais fracos, das crianças antes do nascimento, não apenas os doentes e deficientes, mas todas as crianças. Com mãe, espero que neste ano o tema da infância seja trazido mais à luz, sem retórica, sem ‘pobres crianças’, mas com a consciência de que elas são o futuro da Igreja e do mundo: se eu fosse um chefe de Estado investiria antes de mais nada na escola, na formação.
Quanto à família, eu acho que hoje em dia, uma assembleia extraordinária sobre família tenha que começar não tanto pelos casos extremos como aqueles dos poucos divorciados recasados, que têm um caminho de fé muito profundo e muitos deles (mas não todos) sofrem pela ausência da comunhão. Parece-me que o grande tema da família de hoje seja, pelo contrário, o significado verdadeiro do amor, oposto ao utilitarista do mundo: o amor cristão se baseia em uma relação de amor com Cristo, que tem muito pouco de emocional e nem sempre é gratificante. Assim, parece-me que um discurso útil para famílias que continuam fiéis à sua labuta diária seja dizer: "Olha que este esforço não é sinal de que tudo está errado, mas é a massa, a matéria com que é feita a vida diária, de amor e da família”; “estamos contigo nesta luta, te ajudamos a levar o peso por uma parte do caminho”, Acho que os cristãos e os pastores tenham que fazer-se irmãos daqueles que se esforçam dizendo que é um esforço bom e não um erro, um esforço que salva e nãoum acidente. Todos se esforçam. A família do Moinho Branco, onde as coisas funcionam sozinhas, não existe.
ZENIT: A mensagem da mídia sobre as divisões e conflitos entre os Padres sinodais corresponde à realidade dos fatos?
Constanza Miriano: Acho que os Padres sinodais também são homens, portanto, certamente, às vezes, tem havido entre eles a tentação de alimentar a rivalidade. Porém, acho que, como disseram tantos e como já aconteceu para o Concílio Vaticano II, houve o que realmente aconteceu e o que foi dito, ou seja, o Concílio Midiático, o Concílio de papel: os jornalistas fazem o seu trabalho, mas nós temos que confiar, esperar e saber que a última palavra virá do Papa que é o nosso pastor. Fiz um pouco de jejum midiático, não li muito, não ‘cisquei’ nos sites nesses dias... me irrita quando se fala de progressistas, daqueles que fazem propostas novas, de acordos, de jesuítas de um lado e outros do outro. Em suma, não gosto e acho que não faça bem para a Igreja.
ZENIT: Fala-se muito do óleo da misericórdia nas feridas dos enfermos, da Igreja como “hospital de campanha": qual é a sua experiência de misericórdia na família?
Constanza Miriano: Acho que o amor se pareça muito com a misericórdia, ao perdoar-se mutuamente as próprias imperfeições: enquanto um for homem e a outra mulher, e haja uma profunda diferença e não sobreposição entre masculino e feminino, que a cultura do gênero quer eliminar, mas que, pelo contrário, é uma diferença fortíssima. Compreender, por exemplo, que a mulher tem necessidade de escuta enquanto o homem está sobrecarregado por seu excesso de comunicação (o homem deve perdoar-nos por não sermos capazes de calar a boca). Amar uma pessoa e uma criatura significa perdoá-la milhares de vezes por ser assim tão limitada, tão falaciosa... O amor é como a Cinderela, a abóbora e o beijo final: acho que, no entanto, o amor entre marido e mulher se pareça com a misericórdia, a olhar com um sorriso para a miséria do outro, e também para as nossas, obviamente, que são diferentes, mas do mesmo peso.
ZENIT: Afastando-se do tema do Sínodo, sabemos que em Roma, nos últimos dias, tem havido transcrição nos registros municipais de uniões do mesmo sexo...
Constanza Miriano: Eu acho que é uma lágrima contra a lei, mas também acho que seja necessário recomeçar dos direitos das crianças, porque todos enchem a boca com a palavra "direitos civis", mas acredito que os homossexuais já tenham a posse de todos esses direitos que, com razão, lhes é negado. O que deve ser negada é a possibilidade de adotar crianças ou até mesmo de comprá-las com barrigas de aluguel: isto não é absolutamente um direito civil, porque vai contra o direito das crianças de ter um pai homem e uma mãe mulher. Aqui é necessário combater com a própria vida, mas não será necessário, espero que o bom senso vença.
ZENIT: Ouvindo falar de cotas rosas, de incentivos às mulheres (agora as empresas estão dispostas a pagar suas despesas para congelar óvulos e fazerem carreira), você, pelo contrário, diz que é pelas “oportunidades díspares”...

Constanza Miriano:  Eu acho que o mundo do trabalho tenha regras de funcionamento a parte, totalmente masculinas, e que nós mulheres, apesar de tanto feminismo, lutamos para entrar neste mundo do trabalho, onde sofremos bastante porque, se queremos avançar no trabalho temos que ‘amputar’ a nossa vida pessoal ou, em alternativa, fazer sofrer as pessoas que nos foram confiadas; se, pelo contrário, queremos investir nas pessoas queridas, temos que renunciar o trabalho (que pessoalmente eu renunciaria também, mas nem sempre é possível fazê-lo, ou melhor, quase nunca). Teremos que lutar para que o mundo do trabalho esteja na medida da mãe e da mulher (embora mesmo as que não são mães sempre são mães daqueles que lhes foram confiadas, porque assim está escrito no coração da mulher). Como sempre, as batalhas feministas partem de uma exigência justa, mas logo em seguida adotam lógicas masculinas e erram no objetivo, portanto, gostaria de buscar as “oportunidade díspares” e adotar discriminações que estejam a nosso favor.

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