
Evangelho do dia (Mt 17,1-9):
Naquele tempo, 1Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, seu irmão, e os levou a um lugar à parte, sobre uma alta montanha.2E foi transfigurado diante deles; o seu rosto brilhou como o sol e as suas roupas ficaram brancas como a luz. 3Nisto apareceram-lhe Moisés e Elias, conversando com Jesus.
4Então Pedro tomou a palavra e disse: “Senhor, é bom ficarmos aqui. Se queres, vou fazer aqui três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias”. 5Pedro ainda estava falando, quando uma nuvem luminosa os cobriu com sua sombra. E da nuvem uma voz dizia: “Este é o meu Filho amado, no qual eu pus todo o meu agrado. Escutai-o!”
6Quando ouviram isto, os discípulos ficaram muito assustados e caíram com o rosto em terra. 7Jesus se aproximou, tocou neles e disse: “Levantai-vos e não tenhais medo”.
8Os discípulos ergueram os olhos e não viram mais ninguém, a não ser somente Jesus. 9Quando desciam da montanha, Jesus ordenou-lhes: “Não conteis a ninguém esta visão até que o Filho do Homem tenha ressuscitado dos mortos”.
Homilia:
Escutai-O
2° Domingo da Quaresma
Se pudéssemos descrever o caminho
do homem diante de Deus, poderíamos falar em três etapas. Na primeira ela
reza assim:“Seja feita a minha vontade”. Depois: “Seja feita a minha vontade
com a ajuda de Deus”. Enfim: “Pai, seja feita a tua vontade”.
A primeira expressão – “Seja
feita a minha vontade” – caracteriza a religiosidade infantil. A criança
tem necessidade, para crescer em segurança, de sentir-se o centro do mundo, ou
melhor, o único centro ativo e pulsante do universo. O medo da criança é não
ser a “única”, é ser exposta à própria debilidade da sua condição infantil. Sua
postura diante da vida é caracterizada pela urgência e pela necessidade de que
todos os seus problemas sejam resolvidos imediatamente. Não sabe
interpor tempo entre o surgimento de sua necessidade e a satisfação da mesma.
Chora, até que seja feita a sua vontade.
Mas o crescimento e o tempo mesmo vão
lhe ensinando muitas coisas. A criança vai-se dando conta de que não
consegue em tudo realizar a sua vontade. Precisa do outro para que suas
necessidades sejam saciadas. Tem necessidade da mãe, do pai, dos amigos.
Enfim, tem necessidade de Deus. Nas provas da vida, percebe que não pode dar
por si mesmo e a si mesmo nem saúde, nem imortalidade. Sem a ajuda de Deus, não
pode realizar seus projetos. É já um grande passo avante na compreensão de quem
está no processo de descobrimento das próprias debilidades, debilidades estas
que lhe permitem o nascimento na fé em Deus. Mas ainda aqui, neste nível de
maturidade, seus projetos ocupam o centro. Sua oração agora já não é mais “seja
feita a minha vontade”, mas “seja feita a minha vontade com a ajuda de
Deus”. Este é o nível ao qual chegou a maioria dos cristãos e que
por estes não foi ultrapassado– muitos pararam aqui. Rezam continuamente,
mas a sua oração é sempre e somente um falar, um pedir. Não que não
tenham fé em Deus, mas sua fé é ainda a de uma criança que descobriu a própria
realidade de ser incapaz de realizar por si as coisas mais importantes da vida.
“Deus existe, é bom, é Pai, me ama, e está aí para me ajudar, para me dar as
graças de que eu tenho necessidade a fim de realizar meus sonhos, meus
quereres” – e se não é assim, se Deus não me ajuda, minha fé balança e entro em
crise!
Estamos fazendo uma caminhada no
deserto da vida neste tempo quaresmal. No domingo passado (1° da Quaresma),
quando contemplávamos o relato da criação e o episódio das tentações de Jesus
no deserto, víamos que o grande diferencial entre o primeiro Adão e o novo Adão
– Jesus Cristo – foi a confiança e o cumprimento pleno da vontade de Deus. O primeiro
Adão desobedeceu a vontade de Deus e só pode contar com a própria nudez e
tentou saná-la com folhas de figueira, ficando revestido apenas com sua
vergonha. O segundo Adão, revestido com a obediência ao Pai, será mais tarde
despido de suas vestes enquanto bebe o cálice que lhe é oferto – o da paixão e
da morte – até que seja revestido finalmente com um corpo glorioso.
A obediência à vontade de Deus nem
sempre é algo fácil de se realizar. Exige
uma entrega total nas mãos do Pai, uma confiança plena na lógica divina que é
diferente da nossa. Por não compreendermos o porquê Deus dispõe isto ou
aquilo, desta ou daquela forma em nossa vida, nos custa fazer sua vontade.
Preferimos confiar antes nos nossos projetos, elaborados segundo nossa visão de
mundo, e – num ato de humildade que pode até ser verdadeiro e profundo – pedimos
que Deus nos ajude a fazer a nossa vontade.
Pois bem, neste 2° Domingo da
Quaresma, o Pai – que chamou Abraão, que chamou a cada um de nós – apresenta
o Filho à humanidade e nos dá uma única orientação: “Escutai-o”! E como é
difícil, às vezes, escutar Jesus! Nem sempre seus ensinamentos vão de
encontro à minha forma de proceder. O caminho quaresmal nos leva com
Cristo à Jerusalém, para o encontro com a Cruz. Mas como gostaríamos de pular
esse capítulo e chegar logo à Ressurreição!
Mas este caminho quaresmal tem o
intuito de nos ajudar a crescer na fé, a passar do “Seja feita a minha vontade,
com a graça de Deus”, ao “Seja feita a vossa vontade”. O próprio Senhor no-lo
ensinará no monte das oliveiras: “Pai, se for do teu agrado, afasta de mim este
cálice. Não se faça, porém, a minha vontade, mas a tua”!
Façamos nossas as palavras do Papa Clemente XII e, contando com a
intercessão de Maria, digamos no fundo de nosso coração: “Meu Deus, eu vos
ofereço meus pensamentos, para que só pense em vós; minhas palavras, para que
só fale em vós; minhas ações, para que sejam do vosso agrado; meus sofrimentos,
para que sejam por vosso amor. Quero o que quiserdes, porque o quereis,
como o quereis e enquanto o quereis”. Amém.
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