Manifestações
sobrenaturais relacionadas ao sacramento da Eucaristia são tão antigas quanto a
própria Igreja. E estão acontecendo até os dias de hoje.
As páginas dos Evangelhos estão repletas de milagres: multiplicações de
pães, ordens sobre as forças da natureza, curas de cegos e paralíticos,
ressurreições de mortos etc. Quem lê tudo isso simplesmente com os olhos da
carne diz que Jesus Cristo foi um grande taumaturgo; quem se atenta para o modo como Ele operava todas essas maravilhas,
no entanto, é obrigado admitir que esse homem era o próprio Deus.
Homens antes de Cristo operaram milagres, é verdade — Moisés, por
exemplo, fez descer várias pragas sobre o Egito, e muitos prodígios realizados
por Elias estão todos narrados no Primeiro Livro dos Reis —,
mas nenhum deles fazia tais coisas por força própria. Ninguém pode fazer milagres a não ser Deus: para que
alguém os opere, precisa antes ter recebido a força d'Ele. Foi assim com
Moisés, foi assim com Elias e foi assim com todos os patriarcas e profetas do
Velho Testamento. De Jesus, ao contrário, d'Ele próprio, "saía uma força
que curava a todos" (Lc 6, 19).
Além disso, ninguém antes de Cristo jamais disse ser o Bom Pastor, o Pão
do Céu ou o Filho de Deus. Em nenhum profeta do Antigo Testamento alguém lê
frases como: "Antes que Abraão fosse, eu sou" (Jo 9, 58), "Eu sou o caminho, a verdade e a
vida, ninguém vem ao Pai senão por mim" (Jo14, 6), ou ainda
"Eu e o Pai somos um" (Jo 10, 30). Por
isso, os milagres de Cristo atestam também a verdade da Sua pregação. "Se
este ensinamento não fosse verdadeiro — ensina Santo Tomás de Aquino —, não
poderia ter sido confirmado por milagres feitos pelo poder divino" [1].
Também
os chamados milagres eucarísticos são todos realizados para
comprovar a verdade da doutrina cristã.
Trata-se, sem dúvida, de um milagre típico deste tempo em que vivemos — o tempo
da Igreja, da economia sacramental —, mas seu fundamento está nas próprias
palavras do Senhor: "A minha carne é verdadeira comida e o meu sangue, verdadeira
bebida" (Jo 6, 55). Quando instituiu a Eucaristia, Cristo
não queria fazer uma mera refeição, ou instaurar um memorial simbólico: Ele não
disse, ao tomar o pão, "isto representa o
meu corpo", mas "isto é o meu
corpo"; nem sugeriu, ao tomar o vinho, que aquele líquido lembraria o Seu sangue, mas afirmou solenemente:
"este é o cálice do meu sangue"
(cf. Mt 26, 26-29; Mc 14,
22-25; Lc 22, 14-23; 1 Cor 11,
23-25).
O testamento de Cristo é forte e pode parecer até excessivo. — Crer que
Ele foi concebido de uma virgem, que ressuscitou dos mortos, é até
"tolerável"; mas que Se faça presente, todos os dias, num pedaço de
pão? — Naturalmente, esse escândalo não foi diferente em outros tempos. Muitas
vezes, pessoas dentro da própria Igreja foram tentadas a perguntar ao Senhor:
"Isto é muito duro. Quem o pode suportar?" (Jo 6, 60). É por isso que Deus operou e continua a
operar inúmeros milagres eucarísticos, para mostrar
aos homens que Ele é fiel às suas palavras, e que o sacramento da Comunhão não
é um faz de conta, mas a Sua presença viva e real, nos altares do mundo
inteiro.
Os primeiros milagres
eucarísticos
O primeiro relato que se tem de um milagre ligado a este sacramento se
encontra em um escrito de São Cipriano de Cartago, ainda em meados do 3.º século.
Em um texto chamado De lapsis ("Dos
lapsos", lit.) — sobre a readmissão, na
Igreja, daqueles que negaram a Cristo na hora do martírio —, o santo relata
alguns exemplos de como Deus castigou pessoas que se aproximaram indignamente
da Santa Comunhão.
Depois de narrar o episódio impressionante de uma criança que, após ter
comido um pouco de pão oferecido aos ídolos, começou a vomitar entrando em
contato com o sangue do Senhor, ele prossegue em sua pregação:
"Uma mulher adulta e de idade avançada, que se introduziu
secretamente em nosso meio enquanto celebrávamos o sacrifício, tomando para si
não um alimento, mas uma espada, e recebendo em sua boca e coração como que um
veneno letal, começou a se sentir sufocada e a debater-se depois de ter comido
e, sendo pressionada não mais pela perseguição, mas por seu delito, desmaiou
palpitando e tremendo. O crime de sua consciência dissimulada não ficou oculto
nem sem punição por muito tempo. Aquela que tinha enganado o homem sentiu a
vingança divina.
Outra mulher, que tentou abrir com suas mãos indignas a arca de Deus, na qual estava encerrado o Santo do Senhor, foi detida por um fogo que surgia de dentro e não ousou aproximar-se.
Um outro, que, manchado de pecado, ousou tomar parte com os outros no sacrifício celebrado pelo sacerdote, não conseguiu comer e trazer nas mãos o Santo do Senhor, porque, ao abri-las, viu que carregava cinzas." [2]
Outra mulher, que tentou abrir com suas mãos indignas a arca de Deus, na qual estava encerrado o Santo do Senhor, foi detida por um fogo que surgia de dentro e não ousou aproximar-se.
Um outro, que, manchado de pecado, ousou tomar parte com os outros no sacrifício celebrado pelo sacerdote, não conseguiu comer e trazer nas mãos o Santo do Senhor, porque, ao abri-las, viu que carregava cinzas." [2]
Por que episódios como esses aconteceram?
Porque, no tempo de São Cipriano, alguns pastores começaram a
admitir qualquer um à Comunhão, banalizando o sacramento da Eucaristia.
Eles diziam que não era preciso fazer penitência pelos pecados passados e que
todos, independentemente da vida que levavam, podiam aproximar-se da mesa
eucarística. Por isso, para mostrar que quem come e bebe indignamente o Corpo
do Senhor realmente come e bebe a
própria condenação, como sempre ensinou a Igreja, desde os tempos de São Paulo
(cf. 1 Cor 11, 29), Deus realizou milagres desse
gênero, a fim de incentivar os fiéis ao respeito e à reverência devidos ao
Santíssimo Sacramento do altar.
Conta-se um relato parecido relacionado a São João Crisóstomo († 407),
bispo de Constantinopla. Um homem levou a sua esposa, que pertencia à seita do
arianismo, à igreja do bispo. Mesmo em heresia, a mulher entrou na procissão e
recebeu a hóstia consagrada, guardando-a nas mãos até que chegasse em casa.
Quando pôs a partícula na boca para comer, ela percebeu, para a sua surpresa,
que a hóstia tinha se petrificado. Impressionada com o acontecimento, a mulher
correu sem demora em direção ao santo, mostrou-lhe a pedra com as marcas dos
seus dentes e implorou a absolvição de seus pecados.
Acreditaste porque me viste?
Séculos mais tarde, as pessoas começaram a questionar outros aspectos da
Eucaristia, principalmente o da presença real de Cristo no sacramento.
Foi então que começaram a surgir os grandes e mais conhecidos milagres eucarísticos, alguns preservados até os dias
atuais: em Lanciano, no século 8.º; em Ferrara, em 1171; em Santarém, em Orvieto e em Paris, nos anos
1200; em Siena, em 1730 etc. Em alguns destes, as hóstias consagradas
sangravam; em outros, elas se transformavam em carne humana, e a aparência do
vinho, em sangue. Em outras ocasiões ainda, a hóstia simplesmente levitava, ou
era preservada por um longo período de tempo.
Fatos semelhantes acontecem com bastante frequência no mundo inteiro,
ainda hoje. Tome-se como exemplo o que aconteceu na cidade de
Chirattakonam, no sul da Índia, em 5 de maio de
2001, quando uma figura de Nosso Senhor coroado de espinhos foi vista em uma
hóstia exposta no ostensório. O pároco do lugar, Frei Johnson Karoor, dá o seu
testemunho:
"Abri a igreja para a celebração da missa, me preparei e fui abrir
o Tabernáculo para ver que coisa tinha acontecido à Eucaristia que estava no
Ostensório. Imediatamente reparei que nela estava figurado um rosto humano.
Fiquei muito perturbado e pedi aos fiéis que se ajoelhassem e começassem a
rezar. Pensava que só eu via o rosto e perguntei ao coroinha que coisa ele via
no Ostensório. Ele respondeu: 'Vejo a figura de um homem.' Notei que os fiéis
olhavam fixamente o Ostensório. Começamos a adoração e a figura do homem, com o
passar do tempo era cada vez mais nítida. Não tive a coragem de falar nada e
comecei a chorar."
A
intenção de tantos prodígios é clara: manifestar aos homens a verdade da transubstanciação; mostrar que, quando o sacerdote pronuncia, na própria pessoa de Cristo
(in persona ipsius Christi), as palavras da consagração,
o pão não é mais pão, e o vinho já não é vinho, mas o corpo, sangue, alma e
divindade de Nosso Senhor. Os olhos de quem presencia ou lê um milagre
eucarístico devem dirigir-se, portanto, a cada celebração da Santa Missa: a
partir de tantos fatos extraordinários, somos chamados a enxergar, com os olhos
da fé, a ação maravilhosa de Deus na celebração "ordinária" do sacramento.
No mais famoso milagre eucarístico já testemunhado pela Igreja, em
Lanciano, a carne e o sangue vivos de Cristo apareceram nas mãos de um monge
que duvidava. Ao chamar os fiéis para admirarem o que acabava de acontecer, ele
não se envergonhou em dizer que "o Santo Deus quis desvendar-se e
tornar-se vísivel" a fim de "confundir a minha incredulidade".
Uma vez curado desse mal, porém, o monge deveria renovar e fazer crescer todos
os dias a sua fé. Lanciano não se repetiria mais. O milagre de toda Missa, no
entanto, continuaria a acontecer diariamente, e ele precisava colher os frutos
desses santos mistérios.
É por isso que todas as pessoas são chamadas a ir além dos milagres.
Quando ficamos impressionados com o corpo de um santo incorrupto ou com alguma hóstia preservada de um milagre eucarístico, Jesus
nos repete as mesmas palavras que dirigiu certa vez a São Tomé:
"Acreditaste porque me viste? Bem-aventurados os que creram sem ter
visto!" (Jo 20, 29).
Felizes os que deram crédito às palavras de Cristo, mesmo sem terem visto
milagre nenhum! Felizes os que ouvem as palavras do sacerdote na Missa e sabem
que o próprio Deus está presente ali, porque não nos engana e nem pode
enganar-Se! Felizes os que são capazes de afirmar, com o Catecismo de São Pio
X, o motivo primeiro de nossa fé: "Eu acredito que no
Sacramento da Eucaristia está verdadeiramente presente Jesus Cristo, porque
Ele mesmo o disse, e assim no-lo ensina a Santa Igreja" [3].
Por Equipe Christo Nihil Praeponere
Sugestões
·
CRUZ, Joan Carroll. Eucharistic Miracles and
Eucharistic Phenomena in the Lives of the Saints. Charlotte: TAN
Books, 2010.
Referências
2.
De lapsis, 26 (PL 4, 486-487).
3.
Catecismo de São Pio X, n. 596.
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